Folha de S. Paulo
Resposta da sociedade a desmandos recentes
não pode ser aumento dos soldos
A última coisa de que Lula precisa
agora é uma crise com os militares. Meu receio é que, com base nesse raciocínio
político que é essencialmente correto, o governo deixe de propor e tomar
medidas necessárias para o aprimoramento institucional do país.
Por mais que os generais queiram circunscrever o noticiário negativo em que as Forças Armadas se viram enredadas nos últimos anos a iniciativas isoladas de oficiais que não representam a instituição, penso que o buraco é mais embaixo. Sim, temos casos como o do tenente-coronel Mauro Cid, que se envolveram até a medula no que parecem ser crimes e dificilmente escaparão a uma dura punição determinada pela Justiça. Só que os flertes dos militares com o golpismo e as dúvidas sobre sua lisura foram lamentavelmente muito mais generalizados e institucionalizados.
O Ministério da Defesa foi ator central
na pantomima bolsonarista que tentou minar a credibilidade do
sistema eleitoral. Um general pôs blindados para impedir
policiais de encerrar um acampamento golpista.
E o leitor há de se lembrar das listas de
compras dos militares que incluíam doses cavalares de uísque,
picanha e Viagra. E essa, vale frisar, é uma lista bem resumida.
Parece óbvio que a resposta do governo, e,
portanto, do país, a essa série de problemas não pode ser aumento nos soldos e
mais verbas orçamentárias para projetos militares, como quer o
comandante do Exército. O que a normalização institucional exige são
investigações cuidadosas, sem perseguição, mas também sem leniência, e uma
ampla revisão do papel dos militares na vida nacional. Penso em mudanças nos
currículos das academias, num redimensionamento do próprio tamanho das Forças e
na reformulação do artigo 142 da Constituição, para deixar claro de uma vez por
todas que militares não escolhem a qual Poder devem obedecer. Se houver
conflito entre os Poderes, cabe ao STF e a ninguém mais dirimi-lo.
Falou e disse.
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