O Estado de S. Paulo
É necessário levar à COP-30, em Belém, propostas que façam a diferença para quem vive na floresta
Itaquera quer dizer “pedra dura”, em língua
tupi. É também o nome de uma comunidade ribeirinha situada no Estado de
Roraima. Ela faz parte do município de Rorainópolis, que tem 33 mil quilômetros
quadrados – uma área maior que a da Bélgica. As trinta e poucas famílias que
moram lá vivem da pesca e do artesanato em madeira.
A Cúpula da Amazônia, realizada nesta semana em Belém (PA), reuniu os líderes dos oito países que abrigam a maior floresta tropical do planeta. Decisões importantes foram tomadas, como a criação de órgão que forneça dados para as políticas públicas da região – uma espécie de IPCC amazônico. Os países terão liberdade para elaborar planos de descarbonização de acordo com suas realidades.
O ponto central da Declaração de Belém,
como destacou o Estadão em editorial, foi a combinação entre preservar a
natureza e dar prioridade às populações que ali vivem. Um projeto sustentável
“que coloque as pessoas no centro das políticas públicas”, nas palavras do
presidente Lula, citado no editorial.
Voltemos a Itaquera. A comunidade fica no
meio de uma reserva extrativista estabelecida em 2018 pelo presidente Michel
Temer. Desde 2006 a pesca predatória é proibida na região – mas ninguém obedece
à lei.
“O peixe é a nossa alimentação de base, e a
pesca ilegal vem ameaçando isso de maneira alarmante”, diz Francisco Parede de
Lima, morador de Itaquera e presidente da Associação dos Artesãos do Rio
Jauaperi (AARJ). “Espécies como o surubim e a pirarara, que eram comuns na
minha infância, hoje praticamente não existem mais aqui.” Lima é o entrevistado
do minipodcast da semana.
A Amazônia é assim. Municípios vastíssimos
– Barcelos, ali ao lado, tem área maior do que a de Portugal. Locomoção difícil
– a Itaquera só se chega de barco, o que atrapalha qualquer tipo de
fiscalização. A geografia também facilita a ação do crime organizado, que
tragicamente tem crescido em todos os países da região.
A economia padece com a dificuldade de mão
de obra qualificada. Os alunos têm de viajar horas de barco para chegar às
poucas escolas que existem.
Fundações como a Almerinda Malaquias,
localizada em Novo Airão (do tamanho da Suíça), trabalham em capacitação
educacional graças a doações vindas da parte mais rica do País.
Para “colocar as pessoas no centro das políticas públicas” é preciso percorrer a distância que separa as mangueiras frondosas de Belém da “pedra dura” de Itaquera. E fazer o caminho de volta até 2025 – a tempo de levar à COP-30, programada para a capital paraense, propostas que realmente façam diferença para quem vive na floresta.
Pois é.
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