Valor Econômico
Anúncio do programa mostra que o governo
foi pragmático
Criadas há quase 20 anos, no primeiro
governo de Luiz Inácio Lula da Silva, as Parcerias Público-Privadas (PPPs)
estão pipocando pelo país. Nos últimos 90 dias, foram lançados 120 novos
editais de licitação de PPPs ou de concessões. Outros 43 estão numa etapa
anterior de elaboração, a consulta pública. Praticamente a cada dois dias, um
novo contrato é assinado no Brasil.
Os números são listados por Guilherme Naves, sócio da consultoria Radar PPP, que monitora esse mercado desde 2014. O movimento é largamente liderado pelos municípios, responsáveis por 3.293 contratos de um total de 4.888.
As PPPs mais numerosas envolvem
modernização e manutenção da iluminação pública. Prefeitos relatam ao governo
os benefícios observados: queda na conta de energia, melhora na segurança
pública, embelezamento de áreas e monumentos. O sucesso em uma cidade estimula
as vizinhas a buscar o mesmo arranjo.
Por essa e outras, o número de PPPs está em
aceleração. Antes restrita aos municípios de grande porte, as parcerias com
empresas estão chegando também às prefeituras menores, disse Naves.
PPPs e concessões serão peças importantes
do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado no último dia 11.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que a versão atual se diferencia
das anteriores por promover, induzir, estimular e apoiar parcerias com
empresas. “Todos os projetos que ficarem de pé, seja por concessão ou PPP, essa
é a opção prioritária”, afirmou. Caso contrário, entrarão os recursos públicos.
É uma aposta forte em algo que há pouco
tempo gerava incerteza entre investidores. “Havia dúvida se ele [Lula]
aproveitaria o PPI [Programa de Parcerias de Investimentos] ou mesmo a carteira
de projetos, por causa do alinhamento mais à esquerda”, disse o advogado
Fernando Vernalha, especialista em infraestrutura e sócio do escritório
Vernalha Pereira. “O mesmo discurso que ele fez contra privatizações, com o
qual não concordo, poderia fazer em relação a concessões e PPPs.” Porém, o
anúncio do PAC mostra que o governo foi pragmático, avaliou.
A vantagem de apostar em concessões e PPPs
é que elas têm sido mais eficientes do que os investimentos públicos para
atender à população, avaliou o advogado Mauricio Portugal, especialista nessa
área e sócio do Portugal Ribeiro Advogados. Naves e Vernalha têm a mesma
opinião.
A parte do PAC que gera dúvidas e críticas
é exatamente a que envolve recursos do Orçamento da União e das empresas
estatais. A começar pelos recursos. Como o arcabouço fiscal ainda não foi
aprovado, não se sabe qual exatamente será o espaço para os investimentos públicos,
notou Vernalha. Além disso, olhando para as edições anteriores, uma grande
quantidade de projetos tocados por prefeituras não foi concluída.
Obras paralisadas e suspeitas de corrupção
estão em vários relatórios elaborados pelo Tribunal de Contas da União (TCU)
sobre os dois PACs anteriores, observou Naves. Em relação à versão atual, a
principal dúvida é a execução. Há temor que obras públicas ganhem precedência
por critérios políticos, e não técnicos. Foi interessante a iniciativa da Casa
Civil de ouvir governadores, mas um programa nacional de infraestrutura não é
um “junta-junta” de prioridades, comentou.
Está nos planos do governo uma reforma nas
leis de concessões e PPPs. Vernalha avaliou que há espaço para
aperfeiçoamentos, dado que essas são, respectivamente, de 1995 e de 2004. No
entanto, alertou que é preciso cuidado. “Para ter segurança jurídica, não
podemos mudar a lei toda”, disse. “Até porque não precisa, os contratos vêm
funcionando muito bem.” A experiência acumulada e a jurisprudência já
construída dão segurança ao investidor, pontuou.
A volta da marca PAC trouxe consigo
lembranças de um passado de baixa eficiência e má alocação de recursos
públicos. Apesar disso, é boa notícia o intuito do governo de fortalecer
investimentos em infraestrutura, apoiados em parcerias entre empresas e
governos, com especial atenção a projetos em municípios. Melhor ainda que isso
seja feito como política de Estado, respeitando avanços institucionais
ocorridos ao longo do tempo.
Verdade.
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