quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Luiz Carlos Azedo - Apagão reabre polêmica sobre a privatização da Eletrobras

Correio Braziliense

A hipótese da falta de planejamento é a que mais preocupa o governo. Quando o sistema entra em colapso, os prejuízos econômicos são enormes e o desgaste político é maior ainda

O apagão que atingiu todas as regiões do Brasil na manhã desta terça-feira, politicamente, deve gerar uma guerra de narrativas entre o governo Lula e governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PR), principal gestor do processo de privatização da Eletrobras. O apagão começou a ser registrado nos sistemas do ONS às 8h31, no horário de Brasília, quando é interrompido o tradicional aumento da carga do sistema elétrico. Em 10 minutos, a carga do sistema elétrico brasileiro caiu 25,9%.

A interrupção ocorreu devido à abertura da interligação Norte-Sudeste, supostamente por uma falha no circuito de Imperatriz, no Maranhão, e outra no Ceará. As causas da ocorrência ainda estão sendo apuradas. Há três hipóteses: colapso do sistema, falha humana ou sabotagem. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que vai solicitar à Polícia Federal (PF) e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a apuração das causas do apagão, para saber se houve “eventuais dolos”.

Silveira criticou a privatização da Eletrobras: “O setor elétrico de um país, em especial com uma dimensão territorial como a do Brasil, não deveria ser privatizado”, disse. A privatização da Eletrobras “fez muito mal, em especial no modelo em que ela ocorreu, ela fez, sim, mal ao sistema”.

A hipótese de sabotagem não pode ser descartada, porque houve tentativas de interromper o funcionamento do sistema durante os atos golpistas de 8 de janeiro. Na ocasião, o governo instaurou um gabinete de crise para monitorar a segurança de instalações do setor elétrico. Torres de transmissão de energia foram derrubadas no Paraná e em Rondônia, entre a noite de domingo, 8, e a madrugada de segunda-feira, 9.

À época, as empresas responsáveis pelos sistemas relataram indícios de “sabotagem”, mas os resultados das investigações não foram divulgados. O ministro Silveira, porém, é cauteloso quanto a isso. Com razão, pois o sistema é altamente sensível, requer planejamento e completo monitoramento.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), uma ocorrência na rede de operação do Sistema Interligado Nacional (SIN) interrompeu 16 mil megawatts (MW) de carga. O Brasil registrava 73.484,7 MW às 8h30, no horário de Brasília, em trajetória de alta — exatamente como ocorre todas as manhãs. Mas, no minuto seguinte, a carga do sistema caiu repentinamente cerca de 7%.

Houve, em 10 minutos, perda de carga de mais de um quarto da energia do sistema. A carga do subsistema Norte caiu 83,8% em pouco mais de 10 minutos, a partir de 8h31. No Nordeste, a carga do sistema caiu 44,4%. No Sudeste-Centro-Oeste, a perda foi de 19% após o apagão. Na Região Sul, a queda chegou a 15,5%, a que menos sofreu com o apagão.

Planejamento

A hipótese da falta de planejamento, porém, é a que mais preocupa o governo. Quando o sistema entra em colapso, os prejuízos econômicos são enormes e o desgaste político é maior ainda, como ocorreu no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 1999, houve um blecaute no dia 11 de março, que atingiu o Distrito federal e 10 estados, o que afetou a vida de 76 milhões de pessoas.

Foi um aviso do que viria a acontecer no final do segundo mandato de FHC. Em 2001, a escassez de chuvas e a falta de planejamento, aliadas ao aumento da demanda por eletricidade e à alta dependência das hidrelétricas, sobrecarregaram o sistema elétrico do país e geraram risco de colapso total. Houve racionamento de energia nas regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, entre junho de 2001 e março de 2002.

O governo Lula também enfrentou um apagão em 2009, por causa de uma falha no sistema da binacional Itaipu. A queda brusca na demanda de energia ocasionou o desligamento automático de 20 turbinas da hidrelétrica. Ficaram sem energia 90 milhões de pessoas. Quatro estados brasileiros foram integralmente afetados. Cerca de 90% do Paraguai também ficou sem luz.

No governo Dilma, no qual a construção da usina hidroelétricas de Belo Monte, no Pará, foi uma prioridade, uma falha em subestação localizada na divisa de Pernambuco com a Bahia deixou 47 milhões de pessoas sem luz, em 3 de fevereiro de 2011. Foram várias horas de interrupção no fornecimento em todo o Nordeste.

No apagar das luzes de seu governo, em 21 de março de 2018, o então presidente Michel Temer também teve seu apagão, literalmente. Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rondônia, Sergipe e Tocantins ficaram sem energia. Houve uma falha na linha de transmissão de Belo Monte. No total, 70 milhões de pessoas foram afetadas.

Em 3 de novembro de 2020, a principal subestação do Amapá pegou fogo. Ficaram sem energia 13 dos 16 municípios do estado. O desgaste do governo Bolsonaro, porém, foi localizado. Houve caos nos serviços públicos, durante 10 dias, 800 mil ficaram sem eletricidade. A responsabilidade maior de investimentos na geração de energia é da Eletrobras.

2 comentários:

  1. Tem MME, tem ONS, tem ANEEL, tem as CONCESSIONÁRIAS, tem esses monstruosos cabides de empregos públicos e outros nem tanto, remunerados sempre à máxima, e falha essa porra toda deixando a gente sem energia elétrica?
    E agora vem o 'mentirão' pra explicar inventado culpas?
    E pior: Haddad errou, e tava dizendo a pura verdade!
    Ou dá um jeito de anular de vez o Lira, principal sócio do Bolsonaro, ou, jajá, ele e o centrão vão vender o que resta do país aos árabes, como se fossem jóias em leilão americano, e não vai ter nem troco...

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  2. Na minha cidade não houve apagão,graças a Deus.

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