Correio Braziliense
Com a corda no pescoço, o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, negocia o texto do novo arcabouço com o relator na Câmara dos
Deputados, Claudio Cajado (PP-BA)
O governo Lula fechará 2023 com deficit
primário de R$ 136,2 bilhões, equivalente a 1,3% do Produto Interno Bruto
(PIB), 30% pior que o rombo previsto em março, de R$ 107,6 bilhões (1,0% do
PIB), segundo estimativas da sua própria equipe econômica. A consequência
imediata é a necessidade de bloqueio de verbas discricionárias nesse valor, uma
vez que as regras do teto de gastos continuam em vigor. Ou seja, o governo terá
de contingenciar gastos que não são obrigatórios, o que terá impacto nas
políticas sociais e obras públicas.
O Orçamento deste ano estima um deficit fiscal de R$ 228,1 bilhões, rombo que o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometeu diminuir com medidas de recomposição de receitas e corte de gastos. A meta era reduzir o deficit do ano em torno de R$ 100 bilhões. Essa situação compromete o lançamento de projetos do governo, como o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e aumenta o poder de barganha da Câmara dos Deputados, que empurra com a barriga a aprovação do novo arcabouço fiscal.
Com a corda no pescoço, o ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, negocia o texto do novo arcabouço com o relator na
Câmara dos Deputados, Claudio Cajado (PP-BA). O texto voltou para a Casa porque
sofreu modificações no Senado. Nesta terça-feira, na reunião de líderes, o
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), adiou a votação mais uma vez. Novo
encontro entre representantes da Câmara e a equipe econômica foi agendado para
a próxima segunda-feira.
Segundo Cajado, um dos assuntos em pauta é
a emenda do senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), que cria um espaço
orçamentário de R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões, por sugestão da ministra do
Planejamento, Simone Tebet (MDB). Outros itens incluídos no Senado também estão
sendo examinados pelo relator, como o Fundo Constitucional do Distrito Federal,
o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e
Investimentos em ciência e tecnologia.
O novo marco fiscal é uma condição para a
elaboração do Orçamento da União de 2024. Ao anunciar o adiamento da votação,
Arthur Lira disse que somente há acordo sobre a retirada do Fundo
Constitucional do Distrito Federal dos limites da regra. Na verdade, os
deputados negaceiam a retirada do Fundeb e de gastos com ciência e tecnologia
para forçar o presidente Lula a efetivar a mudança ministerial com a entrada do
Centrão no governo.
Há um jogo de cena entre Lula e Lira em
relação aos deputados André Fufuca (PP-MA) e Sílvio Costa Filho
(Republicanos-PE), já indicados para compor o ministério, mas que não sabem
ainda quais pastas ocuparão. Lula está como aquele sujeito que precisa sair de
cena para evitar uma briga, nem muito rápido que pareça covardia, nem tão lento
que pareça desafiar o adversário. O jogo é mais ou menos este: Lira não pauta o
arcabouço fiscal para votação nem Lula nomeia os ministros, a pretexto de que
ainda não decidiu que posições ocuparão na Esplanada.
Lira deseja manter a relação que tinha com
Bolsonaro. As votações na Câmara somente ocorriam depois que as demandas dos
deputados eram atendidas. No fundo, havia uma crise de confiança devido ao
caráter intempestivo do ex-presidente. Lula deseja mudar essa relação, para que
os deputados sejam atendidos no tempo do governo, cujas prioridades nem sempre
são as urgências dos parlamentares.
Reforma tributária
Outra queda de braços está ocorrendo no
Senado, em razão das exceções aprovadas pela Câmara dos Deputados na reforma
tributária. Segundo a equipe econômica, os jabutis apresentados no Senado podem
aumentar as alíquotas do novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA) em até 27%. O
IVA reunirá nas esferas federal e estadual impostos hoje existentes. Com base
no texto aprovado pela Câmara, a alíquota máxima seria de 25,45%.
Agora, o relator do projeto no Senado,
Eduardo Braga (MDB-AM), negocia com o secretário extraordinário para a reforma
do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, um ponto de equilíbrio. Um estudo sobre
os custos das exceções abertas será fornecido aos senadores. A reforma prevê
cobrança reduzida, equivalente a 40% da chamada “alíquota padrão”; alíquota
zero para a cesta básica; e regimes específicos para setores financeiro,
imobiliário e de combustíveis.
A variação entre o potencial de arrecadação
e o efetivamente arrecadado, para a Fazenda, deveria ficar entre 10% ou 15%.
Influenciam esse resultado a sonegaçao e a inadimplência, principalmente. Para
a Fazenda, o ideal seria que as alíquotas ficassem entre 20,73% e 22,02%. Para
isso, teria de haver apenas a manutenção do Simples Nacional; Zona Franca de
Manaus; e regimes específicos para combustíveis, serviços financeiros, imóveis,
planos de saúde, apostas, cooperativas e compras de governo.
Uma polêmica não resolvida é a composição
do conselho que substituirá o Confaz na definição das alíquotas. Os estados do
Sul e do Sudeste formaram uma frente para ter maior participação do que os
demais, principalmente os do Norte e Nordeste, o que estressa o pacto
federativo.
Estão no Congresso, sendo discutidas, uma proposta para Âncora Fiscal e uma proposta para Reforma Tributária.
ResponderExcluirA proposta de Âncora eles ficam chamando de "Arcabouço". Arcabouço é apenas esqueleto, é armação de estrutura. A estrutura importa, mas o que importa de verdade é o que vai dentro da estrutura e a função que ela vai ter.
Qual a função que vai ter o que for aprovado daquela proposta que chamam de arcabouço?
A função será a de ancorar, de sustentar as variáveis econômico-fiscais do Brasil para que elas não desabem! Então, quando este esqueleto, este arcabouço, for enchido com o que precisa para cumprir a função de ancorar a economia, ele deixará de ser um mero arcabouço e virará uma âncora:: o "ARCABOUÇO" virará uma ÂNCORA FISCAL!
Depois que a proposta for aprovada vão continuar chamando de ...arcabouço, quando na verdade o importante do que está sendo criado é uma âncora e não um arcabouço? Por que ficar jogando com as palavras e escondendo o significado de o Brasil precisar ter uma âncora fiscal? Vamos discutir o Brasil entre nós brasileiros dando os nomes corretos e claros do que as coisas fazem e discutindo a função que elas têm, e não usando disfarces! Se houver transparência nós, os brasileiros todos, vamos saber o que o Brasil está precisando e também vamos saber como os que estão no poder estão fazendo o Brasil. Vamos chamar a proposta que está sendo discutida para tentar resolver nossos desequilíbrios fiscais pelo que ela é:: vamos chamar de ÂNCORA FISCAL! Por que ficar chamando de... ARCABOUÇO?
A Âncora Fiscal é necessária para colocar limites aos governantes irresponsáveis, obrigando a que os gastos sejam feitos com o dinheiro que o país tem com certeza para gastar e que estão previstos no Orçamento. A Âncora Fiscal é para impedir que governantes irresponsáveis gastem com risco de aumento de dívida.
Mas aparece sempre um ou outro para enganar e fraudar a função que a Política Pública responsável deveria ter. Vejamos uma burla ao que deve ser a função de uma Âncora Fiscal de verdade e que não deveria ser burlada.
Nessa discussão do ARCAB... digo, da ÂNCORA FISCAL, quando a proposta chegou ao senado fizeram na proposta uma manobra envolvendo data de início de uma referência importante que, se aprovada, autorizará o governo a gastar uns 40 bilhões a mais que a proposta que saiu da Câmara. Aprovando a manobra, serão mais R$40Bilhões de gastos, em um Orçamento que já apresenta déficit.
Se ficar aprovando esses artifícios autorizando mais gastos em uma propista feita para limitá-los, o equilíbrio fiscal buscado não vai chegar nunca, e essas manobras autorizando mais gastos só vai aumentar a falta de confiança nos governantes, levando a mais desequilíbrios.
O comentário esclarece mais que o artigo.
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