Folha de S. Paulo
Alvíssaras! O jornalismo tem de se
(re)acostumar a tratar política como... política
Lembrei aqui certa feita que as palavras
"polícia" e "política"
têm a mesma origem. A civilização se encarregou de distanciá-las. E sempre se
está com um problema grave quando uma ocupa o lugar da outra. Chega de tratar
política como um caso de polícia e também o contrário. Ficamos atolados nesse
pântano entre 2014, ano de criação da Lava
Jato, e 2022, quando o fascistoide foi derrotado. Alvíssaras! A queridinha
de Aristóteles está de volta, ainda que meio desengonçada, a dançar com Arthur Lira no
meio do salão.
Na sessão que aprovou o arcabouço fiscal,
entre negociações e negaceios —é preciso resgatar certas palavras do oblívio
para alfabetizar o ChatGPT—, o
presidente da Câmara discursou e afirmou que a Casa tem se dedicado a todas as
matérias de interesse do país. Foi quase relatorial: "Nós votamos
a PEC da Transição; nós votamos o arcabouço
fiscal (...); nós votamos o remanejamento
(...) da Esplanada dos Ministérios; nós votamos a reforma
tributária, nós votamos
o Carf... Essas matérias todas em seis meses." Posso refrescar a sua
memória com Bolsa Família, Minha
Casa Minha Vida, Programa de Aquisição de Alimentos, novo Mais Médicos...
Modesto, preferiu omitir a faceta social do colegiado, que ele comanda ora como um sindicalista, ora como um Marechal de Ferro, aludindo a um conterrâneo seu. Ainda respondia à sereníssima entrevista do ministro Fernando Haddad ao podcast Reconversa. O titular da Fazenda, então, fez um mero registro histórico: nunca a Câmara teve tanto poder como agora. Não vou rememorar os fricotes industriados que se seguiram à observação.
Na sessão que aprovou o novo regime fiscal,
o homem mal disfarçava a exaltação do que percebe como obra sua. E emendou:
"É óbvio que a Câmara tem uma maioria
de líderes e deputados conservadora, liberal; então, têm matérias que vão
de encontro a essas ideias que têm dificuldades no Parlamento, e o Parlamento
têm feito grande esforço para atender à necessidade do país". Vamos lá.
Opunha, assim, em sua fala, um Executivo
que entende progressista a essa força majoritária do Legislativo, que chamou de
"conservadora, liberal", tomando os vocábulos como sinônimos. Em
primeiro lugar, trata-se de coisas distintas, sem juízo demeritório sobre
ambas. Em segundo lugar, a resistência
à taxação de offshores ou de fundos dos super-ricos, para citar dois
exemplos, apela a um outro padrão. Aí se trata de reacionarismo, com todos os
seus deméritos. Os fundamentos se perverteram de tal sorte em
"Banânia" que há sedizentes liberais que tentam justificar juros
reais de 10% ao ano. Você pode odiar o liberalismo, mas sem-vergonhice é outra
coisa.
Não busco aqui minimizar o poder do
"lirismo", com suas aspirações épicas. Tampouco me alinho com aqueles
que se escandalizam quando Lula abre negociação com o "Centrão". A
propósito: a tal fala de Haddad nasceu de uma pergunta minha, que tinha como
pressuposto a eficiência do parlamentar, com o que concordou o ministro. Ainda
que isso tenha, notei eu, um custo político. Mas tudo tem. A alternativa é a
porrada.
É preciso notar: o governo mudou neste
2023, mas o comando do Congresso segue
aquele dos dois anos finais do mandato de Bolsonaro.
E só se verifica agora tanta produtividade porque há um presidente da República
empenhado em recuperar padrões mínimos de gestão para responder a iniquidades
evidentes e em dotar o país de balizas contra o atraso. Diga-se tudo e qualquer
coisa sobre o arcabouço fiscal e a reforma tributária, menos que apelem a
experimentalismos. Se alguém está à caça de heterodoxias, vá estudar a
"capitalização" da Eletrobras...
Já há quase oito meses somos impelidos a
falar e a escrever sobre políticas públicas. Que coisa louca, não? Sim, o
ex-Biltre Homiziado de Orlando ainda ocupa o noticiário. Mas é caso de polícia
tratado como caso de polícia. Lembro-me daquele deputado que patrocinou duas
PECs inconstitucionais na boca da urna para tentar reeleger o celerado. Nem
liberalismo nem conservadorismo, certo? Afirmo, pois, sem medo de errar, que o
governo Lula faz também de Lira uma pessoa melhor. O otimismo bem-humorado do
colunista até o colocou para dançar, no mesmo parágrafo, com Aristóteles. Uma
pitada de exagero para temperar a vida.
E o Brasil até agora parado::
ResponderExcluir▪Não tem até agora implantada e sendo implementada nada que se possa chamar realmente de Politica Fiscal;
▪Mesmo uma Âncora, como parte de uma política fiscal, só agora mal acaba de ser aprovada. E o que vem por aí é...AUMENTO DE IMPOSTO para cobrir a gastança!
■E depois?
▪Depois? Depois virá aumento de desemprego e volta da inflação e o que veremos é Lula e o PT ficarem colocando a culpa nos outros e fingindo que não sabem que o que acontece na economia hoje é o que foi feito há dois ou três anos.
Perdemos este 2023 inteiro por causa da curriola, da velha e sempre curriola, dos Presidente da República/Presidente da Câmara/Presidente do Senado/ PT/Centrão/PL/Republicanos/PP/MDB...
Estes merdas como Lula, Bolsonaro(Sim, Bolsonaro:: de 2019 a 2022 foi Bolsonaro quem comandou esta mesma putaria toda) Lira, etc transformam este pais em um prostíbulo político!
É preciso mudar a qualidade do exercício da política. E mudar também a cobertura jornalística da política ; com "jornalistas" como Reinaldo Azevedo não dá:: Reinaldo Azevedo só sabia ser do contra sem fundamentos ; agora, ele só sabe ser a favor sem fundamentos.
O Brasil está em boas mãos,adoro Reinaldo Azevedo,mas não é confiável,mudou demais...
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