O Globo
Falta de estimativa sobre alíquota de novo
imposto, superpoderes de conselho e lista sem critérios para isenções são
pontos considerados falhos do texto da Câmara
Aquele clima de momento histórico, de que
“agora vai”, visto na votação da reforma tributária na Câmara dos Deputados
está longe de refletir a disposição com que o Senado se debruçará sobre a
matéria, que só chegou à Casa ontem, pois o texto final ainda estava sendo
redigido.
A avaliação da cúpula do Senado é que a
bola saiu mais quadrada da Câmara do que o oba-oba visto pela contingência, de
fato notável, de aprovar uma reforma de tamanha importância depois de tantas
décadas permitia supor.
Existe um desconforto com pontos fulcrais da reforma, entre eles o principal, que não está no texto da Proposta de Emenda à Constituição: afinal, qual será a alíquota dos dois correspondentes ao IVA, o imposto sobre consumo dual que substituirá uma cesta de outros tributos?
Ser esse o segredo mais bem guardado da
reforma deixa uma pulga atrás da orelha não só dos senadores, mas de vários
analistas e setores que se puseram a fazer contas mais detalhadas apenas depois
da aprovação com placar robusto pelos deputados.
Noves fora, há quem se debruce sobre o
modelo proposto e estime que a alíquota pode superar os 25% colocados como
balizador nas conversas do governo e do Congresso, mas que não apareceram ainda
em nenhum estudo mais detalhado e embasado em modelos confiáveis.
Dada a ausência de cálculos precisos
fornecidos pela Receita Federal e pela Fazenda, caberá ao Tribunal de Contas da
União fazer o estudo que norteará os trabalhos do Senado. Dada essa disposição
de olhar com lupa o que chegou à Casa e, se preciso, alterar profundamente o
texto, as estimativas de prazo da fase de tramitação senatorial não se contam
em semanas, mas em meses. As mais otimistas preveem que ela seja votada no
plenário lá pelo fim de outubro.
Não só na alíquota moram os dilemas dos
senadores. Causa dúvida o modelo aprovado para o Conselho Federativo, organismo
que arbitrará a arrecadação e a divisão, entre estados e municípios, do IBS, o
Imposto sobre Bens e Serviços, substituto do ICMS (estadual) e do ISS
(municipal). O incômodo se deve aos superpoderes do conselho, que, na visão que
predomina nas lideranças do Senado, compromete o pacto federativo e usurpa
prerrogativas de governadores e prefeitos.
Também existe o temor de que, para compor
com governadores contrários à reforma e ao conselho, a Câmara tenha cedido
demais aos estados do Sul e do Sudeste, em detrimento de Norte, Nordeste e
Centro-Oeste. Como, no Senado, a composição é idêntica para cada unidade
federativa, essas regiões que se sentem prejudicadas têm tudo para alterar a
correlação de forças no texto. E no voto.
Além disso, os lobbies que atuaram
fortemente na reta final da discussão da Câmara, com os que tentam ir à forra
agora, tornam impossível saber exatamente como fica a lista de exceções ao
imposto geral, que ninguém conhece ao certo. Corria ontem à boca pequena entre
os senadores que nove entre dez deputados que votaram a favor do texto não passariam
numa sabatina sobre o que foi aprovado.
Entre as idiossincrasias da lista de quem
terá alíquota menor, algumas saltam aos olhos: com a isenção para produtos de
higiene pessoal, enxaguante bucal, um item de luxo, pagaria menos que água
sanitária, produto presente em muitas casas que serve também para higienizar
alimentos.
Diante de uma lista tão grande de
incertezas e divergências entre deputados e senadores, é papel dos setores da
economia e da imprensa arregaçar as mangas e estudar o que está na mesa, cobrando
os cálculos que mostrarão se, afinal, o sistema ficará mesmo mais racional ou
se o país corre o risco de deparar lá na frente com uma carga tributária ainda
maior.
Sim.
ResponderExcluir''Nove entre dez'' deputados votaram o texto da reforma sem saber o que estava votando,eu bem que achava estranho aquele pessoal todo entendendo essa barafunda,rs.
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