O Estado de S. Paulo
A China mostrou quem manda no Brics
O Brasil vendeu fiado para a China na
sôfrega intenção de fazer os Brics funcionarem como um bloco anti-hegemonia
americana. Em troca da entrada no Brics de países que tornarão o grupo uma
ferramenta chinesa para desafiar a ordem americana, o Brasil recebeu a promessa
de ver o País mencionado como candidato a um assento permanente no Conselho de
Segurança da ONU.
É a repetição de um erro de quase 20 anos atrás, quando o Brasil ajudou a China a obter a condição de economia de mercado – em troca do tal lugar no Conselho de Segurança. É necessária uma ingenuidade muito grande em matéria de política externa – ou uma visão muito deturpada da realidade dos fatos internacionais – para imaginar que a China vá promover a entrada no Conselho de Segurança dos quatro aspirantes principais: Japão, Alemanha, Índia e Brasil.
Japão e Índia são hoje os principais rivais
na área imediata de expansão e influência da China, a Ásia. E ambos têm sérias
desconfianças em relação ao que Pequim pretende. A China é, sem dúvida, a
grande vencedora da queda de braço no Brics, impondo ao Brasil a expansão de um
grupo que tornará nossa diplomacia menos efetiva.
Para a China, incluir o Irã no grupo faz
todo sentido, pois ela está desmontando o que foi a grande influência americana
no Oriente Médio (e acaba de mediar um entendimento entre sunitas da Arábia
Saudita e xiitas do Irã). Para o Brasil, muito pouco: nossas vantagens
comparativas estão em outro campo, o da bioeconomia, transição energética e
economia verde, e bem menos no campo da proliferação de tecnologias nucleares.
A China surge agora como a condutora de um
bloco que já foi chamado de terceiro mundo, países subdesenvolvidos, em
desenvolvimento, mercados emergentes. Agora o nome da moda é “Global South”,
que segue designando o mesmo fenômeno: seu grande número e interesses
divergentes impedem que atuem como um “blocão” coeso, mas dão grande
repercussão a quem, como a China, está empenhada na formação de uma heterogênea
aliança antiamericana.
Onde o Brasil fica nisso não está claro.
Depende de acesso à tecnologia, sistema financeiro internacional e mantém laços
históricos e culturais com o “mundo ocidental”. Vende e tem grande parte do seu
saldo comercial favorável atrelado à China, mas vale a pena lembrar que boa
parte da tecnologia e insumos que fizeram da agroindústria brasileira uma superpotência
na produção de alimentos está ligada ao Ocidente.
Lula pretende alterar uma ordem
internacional que, segundo ele, reservou ao Brasil um lugar subalterno como
fornecedor de matérias-primas. Não foi imposição. Foi escolha.
Fato.
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