Folha de S. Paulo
Ministro e diretor-geral poderiam pensar
duas vezes antes de comentar ações contra principal adversário político de Lula
No dia em que a Polícia Federal desbaratou o esquema das joias, o ministro da Justiça emitiu uma sentença. Flávio Dino disse haver "direta relação" entre o golpismo e a venda dos presentes. "Era uma tentativa de golpe monetizado", anotou. Se a ideia era fazer um juízo político e tirar proveito do noticiário fervente, era melhor ter pensado duas vezes.
Com a PF sob seu guarda-chuva, um ministro
da Justiça deve fazer tudo para preservar a imagem de uma corporação
independente. Dino já cedeu mais de uma vez à tentação de comentar
investigações contra o principal rival de seu grupo político.
Nesta quinta (31), o ministro ironizou a
decisão de Jair
Bolsonaro de não
responder às perguntas da PF sobre as joias. Dino relembrou sua experiência
como juiz e afirmou ver o silêncio de acusados como sinal de que "falar
era pior do que calar".
O ministro tem o direito de pensar o que
pensa, mas conhece as implicações do que fala. Horas depois, na GloboNews, ele
mudou o tom, disse que "o silêncio é um direito" e afirmou que a
interpretação dessa escolha será feita pelo Judiciário.
O
diretor-geral da PF também fez barulho quando disse ao UOL, na semana
passada, que uma prisão preventiva de Bolsonaro era uma possibilidade. Andrei
Rodrigues foi cuidadoso ao apontar que aquela era só uma hipótese legal, mas
uma cautela mais radical cairia bem naquele caso.
Os abusos cometidos por órgãos de
investigação em anos passados renderam uma correção de rota enérgica. A PF
baixou o volume depois de integrar espetáculos com manifestações enviesadas e
deduções libertinas, quase sempre alimentadas por uma agenda política mal
disfarçada.
Dino e Rodrigues deram um firme respaldo a
esse ajuste. Os dois poderiam aproveitar para fugir de certos erros. É
inevitável que se forme uma disputa política em torno de cada inquérito que
carrega o nome de Bolsonaro. O mínimo que o Ministério
da Justiça e a Polícia Federal podem fazer é fechar hermeticamente até
as menores brechas para questionamentos.
Sei.
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