Folha de S. Paulo
Presidente vai contra os fatos quando diz
que TRF-1 concluiu que pedaladas de Dilma não existiram
Lula tem todo o direito de achar que o impeachment de Dilma foi um golpe. O termo "golpe" é polissêmico o suficiente para comportar ampla gama de interpretações. Lula também pode, sem nenhum problema, propor que se faça uma reparação simbólica à ex-presidente. Vivemos numa sociedade aberta em que é facultado a qualquer um pedir qualquer coisa. Um niilista empedernido pode, se desejar, pedir a extinção da humanidade; ele só ultrapassará a linha do inaceitável se tentar pôr essa ideia em prática.
O líder petista viola a integridade dos
fatos, entretanto, quando afirma que a decisão
do TRF-1, que mandou arquivar ação de improbidade administrativa a que
Dilma respondia, prova que as pedaladas fiscais que basearam o processo de
impeachment não existiram. O que os desembargadores essencialmente disseram é
que não cabia uma ação de improbidade porque a ex-presidente já havia sido
punida por crime de responsabilidade no foro adequado, que é o Senado.
Um princípio caro ao direito é o de que
ninguém pode ser condenado duas vezes pela mesma conduta ("ne bis in
idem"). Os magistrados nem chegaram a discutir se houve pedaladas e muito
menos se elas justificariam o afastamento.
Lula é obviamente capaz de entender essa
distinção. Mas ele vem recorrendo cada vez mais à técnica de fazer um discurso
para o público geral e outro para a audiência petista. Nisso o presidente se
assemelha a Aristóteles.
O filósofo grego costumava diferenciar seus textos exotéricos, isto é,
destinados a todos, dos esotéricos, aqueles dirigidos ao círculo interno de
seguidores. Mas, enquanto o grego se valia desse artifício para ganhar tempo e
precisão (a mesma razão pela qual médicos se comunicam entre si utilizando
termos técnicos), o petista o faz por razões políticas, para agradar a
diferentes audiências. O risco é cair em contradições ou cometer
inconsistências que revelem a fragilidade das ideias.
Perfeito! Objetivo,didático, cirúrgico.Lula é desinformador. MAM
ResponderExcluirPerfeito
ResponderExcluirReinaldo Azevedo,um quase jurista,concordou com Lula.
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