Folha de S. Paulo
Monotonia servirá bem ao feriado para
reforçar obrigações da caserna com seus limites institucionais
Lula escolheu
três adjetivos de dar sono para descrever sua expectativa para o Dia da
Independência. "Acho que vai ser um 7 de Setembro bom,
pacífico, normal", afirmou o presidente na antevéspera do feriado.
O petista mirou a data para marcar um capítulo necessário nas relações entre o poder civil e os militares. Depois de anos em que a aliança política de Jair Bolsonaro com as Forças Armadas explorou o 7 de Setembro para disparar ameaças, o governo tem a oportunidade de fazer uma solenidade entediante para reforçar as obrigações da caserna com seus limites institucionais.
A
roupagem do primeiro Dia da Independência deste mandato de Lula parece
apropriadamente burocrática. A ideia do governo é resgatar as cores verde e
amarela como símbolos nacionais dissociados de correntes políticas. Já o slogan
"democracia, soberania e união" teria o objetivo de enquadrar uma
instituição que foi parceira do golpismo, se desviou de suas atribuições e
serviu de veículo para o divisionismo.
Bolsonaro aproveitou o caráter militarista
das solenidades para alimentar um projeto associado à autoridade das Forças
Armadas. O então presidente plantou a semente em
2019, quando vinculou a data a uma luta por liberdade, ameaçada por
adversários políticos. Nos anos seguintes, repetiu o roteiro ao
anunciar a intenção de descumprir ordens judiciais, transformando o feriado
numa exortação ao golpismo.
A ressaca bolsonarista veio pesada. O
ex-presidente indicou a aliados que não pretende participar de nenhuma
celebração pública no feriado. Valdemar Costa Neto, chefe do PL, disse à Jovem
Pan que os apoiadores de Bolsonaro deveriam fazer o mesmo: "Vamos ficar em
casa no dia 7 de Setembro, porque o que aconteceu com a gente no 7 de Setembro
do ano passado foi muito triste".
Nenhum decreto seria capaz de tirar dos
quartéis o elefante bolsonarista e nenhum desfile protocolar vai desfazer a
corrupção institucional dos últimos anos, mas a monotonia servirá bem ao
feriado.
Verdade,falou pouco,mas falou bonito.
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