Folha de S. Paulo
Lula veste o santo do centrão e põe a nu o
descaso com o critério inicial da igualdade
A representação da diversidade nacional que
subiu a rampa na cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio da Silva não
acompanhou o critério da recente
mexida no primeiro escalão que, convenhamos, a rigor não se
pode chamar de reforma.
Na acepção da palavra, reformar significa mudança para melhorar algo de cujo conteúdo algum mal precisa ser extirpado. Não foi o que aconteceu, a menos que Lula tenha detectado malefício imperdoável na presença de Ana Moser no comando do Ministério do Esporte e visto na falta de uma pasta para tratar das pequenas empresas grave entrave aos trabalhos governamentais.
A expectativa da conquista (incerta) de
votos no Congresso norteou as alterações. Atendeu-se parcialmente ao desígnio
do centrão e se abriu fissura no princípio da igualdade, da amplitude e da
união da frente que impediu a reeleição de Jair
Bolsonaro.
A cena inicial do 1º de janeiro vai se
desfazendo e, com ela, brechas na unidade em torno de Lula vão sendo abertas a
críticas com as quais ele não está acostumado. Tampouco lida bem quando oriundas
de seu campo tradicional de apoio.
Muito do que Lula faz divide a sua base:
indicação de Cristiano
Zanin para o Supremo Tribunal Federal,
os modos e meios de atração da direita e arroubos personalistas na tentativa de
conter insatisfações. Aqui se inscrevem homenagens a ditaduras, a defesa de
sigilo nos votos do STF, a sanha
vingativa contra o Ministério Público e outros tantos escorregões retóricos.
O santo de casa, o PT, não foi convocado a
contribuir no milagre da transformação: manteve intactos seus 11 ministérios.
Ao centro desagradou-se Márcio França,
o artífice da aliança com Geraldo
Alckmin.
Nessa toada, é de se perguntar o que seria
da foto da inclusão se o centrão se interessasse pelas pastas dos Povos
Originários, da Mulher, dos Direitos Humanos ou da Igualdade Racial.
Exercício apenas hipotético porque nenhuma
delas fura poço.
É.
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