Folha de S. Paulo
Lula se enreda num processo de indecisão
inaceitável para quem está no terceiro mandato
Janeiro de 2023 ainda não havia acabado
quando os ministros Daniela
Carneiro e Juscelino
Filho, do União Brasil, começaram a se enrolar em ocorrências
desonrosas.
Ela, numa esquisita relação eleitoral com
milícias da Baixada Fluminense; ele, com o uso do dinheiro de emendas
parlamentares para beneficiar fazenda da família no Maranhão.
Daniela saiu da pasta do Turismo em julho. Juscelino seguia até ontem no comando das Comunicações, apesar de novos enroscos revelados nos últimos sete meses: recebimento de diárias e uso de avião da FAB em agenda pessoal, emprego de funcionário fantasma e autorização para "despacho" informal do sogro no gabinete ministerial.
Lula achou
tudo isso pouco e pediu que o auxiliar provasse inocência. O ministro devolveu
diárias, mas não dirimiu dúvidas sobre outras acusações.
Agora, a Polícia Federal revela que ele
é investigado
por desvios de recursos da Codevasf em prol da cidade de onde a irmã prefeita
de Vitorino Freire (MA) foi afastada do cargo por ordem
do Supremo
Tribunal Federal.
Adepto da lentidão de rítmica também na
dita reforma ministerial, Lula não se abalou. Autorizou aliados a dizerem que a
situação de Juscelino Filho pode atrasar o acerto com o centrão, cuja
formalização entra em seu terceiro mês desde que foram confirmados dois
deputados do PP e do Republicanos para ministérios ainda sem definição.
Não se sabe quem sai, tampouco se mudará o
perfil de algumas pastas ou se outras serão criadas, mas já conhecemos os
futuros ministros de polivalência digna de figurar em "cases" de
cursos de administração.
O que temos é um presidente enredado num
processo de indecisão só relativamente aceitável em novatos. Em alguém no curso
do terceiro mandato, o obscuro vaivém revela descaso por assuntos internos ou
pior: incapacidade de distinguir a tática de ganhar tempo da pura perda de
tempo no exercício de governar.
Visto de fora parece fácil.
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