O Globo
Você faz falta nos jornais, nas redações dos
programas de humor, e como faz! Faz falta sua poesia numa hora dessas
Ainda faltam três dias, mas... fazer o quê,
se a coluna sai hoje, não na terça? Dia 26 de setembro é seu aniversário,
pretexto ideal para trazer você de volta a este canto da página 3.
Era aqui, à direita de quem entra no jornal,
e antes de tapar o nariz e encarar as notícias, que o leitor encontrava os
melhores motivos para rir, sorrir, gargalhar, se deleitar (ou se enfurecer) com
seus pontos de vista e acompanhar a saga do avô de primeira viagem.
Aqui, em meio à sisudez dos artigos de opinião, reluziam seu humor nunca banal, sua erudição jamais presunçosa, sua inteligência invariavelmente aguçada. Nem sempre era possível concordar, mas não é preciso pensar igual para admirar — cá entre nós: reverenciar apenas quem comunga das mesmas ideias não deixa de ser uma forma de narcisismo.
Todos os colunistas são indicados no
cabeçalho com nome e sobrenome. Todos — menos você, a quem o sobrenome
(superlativo absoluto sintético) bastava. Algum implicante dirá: é porque “Luis
Fernando” não cabia naquele espaço — e aposto que você tenha uma argumentação
hilária corroborando essa hipótese. Autoironia não é para os fracos.
Você faz falta nos jornais, nas redações dos
programas de humor — e como faz! Fazem falta seus novos livros na relação dos
mais vendidos, faz falta sua poesia numa hora dessas.
Andamos menos críticos sem seu olhar
revelador da comédia da vida pública e privada, menos lúcidos sem seu
desnudamento das mentiras que homens e mulheres contam. Quem nos lerá as ácidas
cartas (em papel turquesa, recendendo a “Mange Moi”) da ravissante Dora Avante?
Será que o analista ainda exerce sua pseudociência em Bagé? A pessoa
verticalmente prejudicada, da melhor idade, cujos pronomes são “ela” e “dela”,
residente em Taubaté (politicamente correto, presente!) continuará acreditando
em tudo — inclusive que temos um governo comprometido com representatividade e
preservação do meio ambiente? Agora que não há mais adultérios a investigar (os
próprios envolvidos expõem todos os detalhes em podcasts e nas redes sociais),
talvez Mort, Ed Mort, já seja apenas um nome na plaqueta. E Voltaire não veja
razão para voltar.
Em 2018, você escreveu: “A gente não faz
aniversários. Os aniversários é que vão fazendo a gente. E depois, pouco a
pouco, nos desfazendo”. Mas complementava:
– Quem não gosta de ter seu aniversário
lembrado? Os que dizem que não querem festejar porque não ligam para essas
coisas, e “não desperdicem tempo e dinheiro comigo”, e “que bobagem”, e “eu nem
vou estar aqui” são os que depois mais gostam da festa e mais riem com a
velinha que não apaga e regem o parabéns e as palmas e, se for o caso, saem
dançando com a, ou o, stripper. E, além de adorar todos os presentes, adoram
comemorar este fato fantástico: deram outra volta no Sol e continuam vivos.
A saúde talvez não lhe permita celebrar como
se deve esta 87ª volta olímpica, os 940 milhões de quilômetros percorridos
desde a festa do ano passado. Mas a Família Brasil acenderá as velinhas, e as
cobras (não pergunte como) baterão palmas.
Podemos não ter visto sua assinatura em
textos inéditos nos últimos tempos, mas é possível reconhecer sua voz e sua
verve na escrita de uma geração de cronistas que bebeu da sua fonte.
Feliz aniversário, mestre!
Muito bom!
ResponderExcluirUm texto digno para um grande mestre!
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