Folha de S. Paulo
Protagonistas na vitória da eleição,
queremos ser ouvidos
Subir a rampa do Planalto com
representantes de uma sociedade mais diversa é fácil. Difícil é transformar o
discurso em ações para aumentar a participação dessas pessoas em setores
variados do Estado. Pela segunda vez, Lula terá a chance de deixar o STF um
pouquinho menos branco, menos masculino, menos hetero, mas principalmente, mais
progressista.
O cenário deve permanecer o mesmo e Lula parece zero constrangido por garantir a presença de um conservador como Cristiano Zanin durante as três próximas décadas no Supremo. Agora defende a falta de transparência no Tribunal ao dizer que ninguém precisa saber como vota um ministro. O reaça do Bolsonaro não faria melhor.
Talvez Lula faça um cálculo bastante
arriscado de que terá tempo de proporcionar um pouco de equilíbrio à casa num
suposto quarto mandato. Não é o seu pescoço que está em risco, mas o das
minorias que subiram a rampa com ele. Se a ideia for essa e os planos não
saírem como previsto, um eventual governo de direita ou de extrema direita, com
o poder de nomear mais três ministros terrivelmente conservadores, pode
sequestrar direitos já garantidos, como o casamento homoafetivo.
O inusitado desse momento é a briga entre a
militância, que deixou o cercadinho lulista dividido. De um lado, gente que
jamais questionará as decisões de painho e está enfurecida com quem o faz. Do
outro, eleitores que se enxergam como protagonistas na vitória da eleição e
querem ser ouvidos.
Há uma campanha circulando nas redes,
batizada de #tomaumcafecomelas,
com intuito de pressionar Lula a conhecer juristas negras para a vaga. O tom
do site,
produzido para que os eleitores inundem a caixa de e-mail da Secretaria de
Comunicação da Presidência, é de deboche. Diz que o presidente não tem tempo
para socializar e precisa aumentar o círculo de amizades. O recado é claro:
Lula só não indica uma mulher negra ao Supremo se não quiser.
Parece.
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