Folha de S. Paulo
Voto sigiloso removeria tribunal de Fla-Flu
raivoso para atirá-lo na suspeição de uma sala secreta
Lula acredita
que os ministros do STF deveriam
se esconder um pouco. Para reduzir a animosidade contra os magistrados, o presidente
defendeu que os votos de cada integrante da corte sejam sigilosos.
Bastaria divulgar o placar final dos julgamentos. "Eu acho que o cara tem
que votar, e ninguém precisa saber", disse.
Se o plano de manter votos em segredo for um palpite descompromissado, o petista precisa pisar com mais cuidado na tribuna que ocupa. Se a proposta é para valer, o presidente encontrou um remédio errado e ainda ignorou os efeitos colaterais.
Lula não é o único a ver a hostilidade
contra o STF como problema e nem o primeiro a identificar os efeitos negativos
de um processo de hiperxeposição da corte. Num mundo ideal, o Supremo deveria
exercer um papel contramajoritário e resguardar as diretrizes constitucionais
sem se preocupar com a pressão das ruas e de grupos políticos. No mundo real, o
próprio tribunal se entrega a circunstâncias bem diferentes.
O Supremo é um agente permanente da vida
pública, e seus integrantes aceitaram fazer parte desse jogo. O desembaraço
para enfrentar grandes julgamentos carrega como contrapesos a vaidade em
sessões televisionadas, a valorização de ferramentas de ação individual e, em
última instância, o poder de dar a palavra final nos conflitos nacionais.
Lula parte do pressuposto de que o sigilo
daria ao Supremo conforto para decidir em caráter institucional, com baixa
exposição das opiniões de cada integrante e menor risco de críticas. Não é
coincidência que o presidente tenha lançado a ideia logo depois que Cristiano
Zanin virou alvo da esquerda por votar alinhado à ala
conservadora do tribunal.
O poder acumulado pelo STF deveria fazer
com que a transparência fosse uma condição irrevogável de sua atuação. O
segredo dos votos poderia até beneficiar alguns ministros, mas seria a pior
maneira de resguardar o tribunal. Removeria a corte de uma arena em que se
disputa um Fla-Flu raivoso para atirá-la na suspeição de uma sala secreta.
Parece que é só o Reinaldo Azevedo que pensa como o Lula.
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