O Globo
Conservadores dizem que os professores
fazem doutrinação de esquerda
Na última quarta-feira, um acordo na
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Rio
engavetou o projeto de lei que propunha a extinção da Uerj, a tradicional
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A iniciativa — que chegou a ser
debatida na CCJ e, se aprovada, iria para votação no plenário — é o último
episódio da campanha dos conservadores contra as universidades.
O projeto que buscava a extinção da Uerj fazia duas alegações principais. Primeiro, que ela é onerosa para o orçamento público. Segunda, que tem um “nítido aparelhamento ideológico de viés socialista”.
Quatro anos antes, em 2019, uma CPI foi
instalada na Assembleia Legislativa de São Paulo para investigar questões administrativas
envolvendo as três universidades estaduais: USP, Unesp e Unicamp. Embora o
objeto da CPI fosse administrativo e financeiro, deputados estaduais não
esconderam sua motivação política. Wellington Moura (Republicanos) declarou que
queria “analisar como as questões ideológicas estão impactando no orçamento”,
já que havia, segundo ele, “um predomínio da esquerda nas universidades”.
No mesmo ano de 2019, o ex-ministro da
Educação de Bolsonaro Ricardo Vélez Rodríguez prometeu, em seu discurso de posse,
combater “o marxismo cultural, hoje presente em instituições de educação
superior”. Para os conservadores, as universidades estão tomadas por
doutrinação de esquerda realizada com recursos públicos.
Esse entendimento não é exclusivamente
brasileiro. O Centro de Pesquisa Pew, nos Estados Unidos, vem investigando nos
últimos anos o descompasso entre simpatizantes dos partidos Republicano
(direita) e Democrata (esquerda) a respeito de como veem a universidade.
Enquanto 64% dos republicanos consideram que ela tem efeito negativo sobre o
rumo dos Estados Unidos, apenas 22% dos democratas pensam assim. Até o começo
dos anos 2010 a diferença entre os dois grupos era pequena, como mostra o
gráfico abaixo. Em 2019, o Pew investigou as causas desse entendimento: 79% dos
republicanos achavam que “os professores estão trazendo suas visões políticas
para a sala de aula” — apenas 17% dos democratas concordavam.
Não temos pesquisa no Brasil medindo, entre
petistas e bolsonaristas, a adesão à tese segundo a qual os professores fazem
doutrinação de esquerda nas universidades, mas me surpreenderia se os números
fossem muito diferentes dos Estados Unidos.
Em geral, a universidade tem tratado com
desdém a preocupação dos conservadores, considerando a acusação de doutrinação
marxista mera teoria da conspiração. É certo que a tese segundo a qual a
esquerda se engajou num projeto articulado para expandir a hegemonia marxista
por meio da universidade é ridícula. Na universidade em que leciono, a USP, não
creio que existam mais do que 30 ou 40 marxistas entre os 5 mil professores.
É bem verdade, porém, que temos pouca
pluralidade política nos cursos de ciências sociais e humanidades. Não existe o
tal projeto de hegemonia marxista, mas existe muito pouco espaço para o
conservadorismo e o liberalismo nas ciências humanas. O progressismo é
amplamente dominante, e há baixa tolerância com quem tem posições políticas
divergentes. É um problema grave.
Nos Estados Unidos, um movimento chamado
Heterodox Academy propõe que a universidade se reforme. Poderíamos fazer o
mesmo aqui. A inclusão do liberalismo e do conservadorismo democrático nas
universidades brasileiras seria benéfica por uma série de motivos. Em primeiro
lugar, a pluralidade faz bem para o ensino, pois apresenta aos estudantes um
arco mais amplo de perspectivas. Além disso, no confronto com o diferente, as
debilidades das ideias aparecem mais facilmente. A pluralidade educa melhor e
produz ciência melhor. Ao incluir correntes de pensamento mais associadas à
direita, atenuaríamos a disposição antiuniversitária dos cidadãos
conservadores, que passariam a se ver na USP ou na Uerj, instituições que eles
também financiam com seus impostos.
Outro ministro de Bolsonaro, Abraham Weintraub, representou ainda melhor este radicalismo bolsonarista contra a Universidade pública, acusando as universidades, seus professores e dirigentes de manterem laboratórios produtores de drogas ilícitas. Prometeu provar suas acusações, mas nunca fez isto! Foi processado e condenado por suas mentiras! Mas como exercia a função de ministro de Estado, não teve que pagar o valor estipulado pela Justiça. O Estado brasileiro é que teve que pagar pelas MENTIRAS de seu ministro da Educação no DESgoverno Bolsonaro!!
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