Folha de S. Paulo
Valentes no poder, estão hoje em trêmulo
silêncio; mas terão de criar coragem e se explicar
Para quem passou quatro anos circulando alegremente dos quartéis aos porões e vice-versa, os militares do governo Bolsonaro converteram-se ao mais pávido silêncio. Estão todos submersos, respirando por canudinho, de modo a que nem a menor marola chame a atenção para seus nomes na delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. Mas em vão. Em algum momento, terão de voltar à tona e responder por suas intimidades com o capitão.
Será fascinante ouvir os generais que se
dedicaram a tentar desmoralizar o processo eleitoral acusando um suposto
"código malicioso" nas urnas eletrônicas —naturalmente, só as que
contivessem votos contra Bolsonaro. Eles são o ex-chefe do Gabinete de
Segurança Institucional Augusto Heleno, canino inimigo do TSE e que, em seus
últimos minutos no cargo, desmontou o GSI, tornando possível o 8/1; o
ex-secretário-geral da Presidência Luiz Fernando Ramos, com suas solertes
ameaças do tipo "Não estiquem a corda..."; e o ex-ministro da Defesa
Paulo Sérgio Nogueira, gentil anfitrião em seu gabinete de Walter
Delgatti, o hacker de Araraquara.
No caso das joias, temos o almirante Bento
Albuquerque, ex-ministro das Minas e Energia, para quem o ingresso das pedras
preciosas de Bolsonaro no país estava sob sua jurisdição —afinal, cuidava dos
minérios, não?; o contra-almirante José Roberto Bueno Jr., que, para justificar
a patente, foi contra a apreensão das joias pela Receita em Guarulhos; e o
coronel da reserva Marcelo Costa Câmara, zeloso guardião do acervo de
Bolsonaro.
Haverá também muito a ouvir do general
Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e, pelo visto, especialista em coletes à
prova de balas superfaturados, e do inesquecível general Eduardo Pazuello, nem
que seja por deixar que sua pança fosse jocosamente afagada por Bolsonaro.
Tão valentes no poder, estão hoje trêmulos
e mudos. Mas terão de criar coragem e se explicar.
Verdade.
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