sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Vinicius Torres Freire - Boa notícia para Lula no Datafolha

Folha de S. Paulo

Ódio político e demora de nova melhoria econômica criam teto para prestígio presidencial

Depois de quase nove meses de governo, a avaliação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva permanece na mesma: 38% de "ótimo ou bom", diz a pesquisa Datafolha publicada nesta quinta-feira. É melhor do que a do governo das trevas de Jair Bolsonaro depois do mesmo tempo de mandato (29%). Bolsonaro perdeu muito voto e prestígio em pouco tempo.

É pouco? A nota de Lula 3 está abaixo da que tinham Lula 1, FHC 1 e Dilma 1 em nove meses de governo, por aí. Em 2003, em seu primeiro ano de primeiro mandato, Lula teve em média 43% de "ótimo ou bom" nas pesquisas Datafolha.

Em 2004, 39%. No ano de 2005 do mensalão, baixou a 32%.

O prestígio do presidente começaria a subir sem parar apenas no final de 2006, terminando o governo, em 2010, com impressionantes 77%. Então, a economia do Brasil crescia no ritmo mais rápido desde os anos 1970.

Por que a popularidade de Lula haveria de ter mudado desde o início do ano? Além dos insondáveis, não houve motivos para a alteração dos humores políticos, dados os suspeitos de sempre: inflação, emprego, salário, benefício social, escândalo ou sururu político.

Sob certo aspecto, Lula estabilizou o país. O vento forte, perverso e feroz do governo das trevas parou de soprar na biruta. Há certa estabilidade na economia da vida cotidiana, com exceção da grande melhora inflação dos alimentos que caiu da casa do 15,6% de aumento anual em agosto de 2022 para zero, agora.

O salário médio ainda aumenta em relação ao ano passado, mas recupera-se dos fundos do poço da crise que começou em 2014. Por ora, o rendimento médio do trabalho é quase igual ao de 2019, pré-pandemia, ou ao dos picos de 2014, antes da grande queda. O número de pessoas empregadas parou de crescer, embora o desemprego ainda caia um tico.

O aumento do Bolsa Família foi relevante. No entanto, chegou para famílias muito destruídas pela onda de miséria, em particular a pavorosa onda de 2021. Além disso, o aumento do benefício médio mensal em relação ao da metade final de 2022 não foi tão grande assim. Em meados do ano passado, o valor médio do benefício era de R$ 402. De última hora eleitoreira, porém, o governo das trevas promoveu um aumento. Na média, o pagamento era de R$ 607 em dezembro de 2022. No mês passado, foi a R$ 686. O povo mais pobre já contava ao menos com isso.

Temas como mudança em ministério, nomeação para o Supremo, Brics, cúpulas, arcabouço fiscal ou reforma tributária não costumam comover muito o grosso do eleitorado.

No mais, qualquer adulto sensato sabe que o país quase virou do avesso ou botou suas entranhas para fora desde 2010 ou, melhor, desde 2013. Há uma divisão profunda, bem delimitada e odienta de preferências políticas, sociais e culturais, para começar. Entre os eleitores de Lula 3, o governo é "ótimo ou bom" para 72%. Entre os eleitores de Bolsonaro, 6%. Não parece razoável acreditar que os atos de governo expliquem diferença assim enorme. Afora milagres do crescimento ou outros, o teto do prestígio de Lula parece bem mais baixo nestes tempos.

Por falar em crescimento econômico, parece difícil agora que sobrevenha um aumento de ritmo assemelhado ao que se viu entre Lula 1 e Lula 2, mesmo com a ressalva de que se sabe pouco do que tem acontecido com a economia brasileira desde 2021 pelo menos.

Tão cedo não deve haver uma diminuição maior do desemprego. Menos ainda haverá aumento significativo, se algum, de benefícios sociais (dadas as limitações de despesa. Em 2024, não está previsto aumento algum, por exemplo). Se tudo der certo, com contas públicas sob algum controle e inflação baixa, pode haver nova luz em 2025.

 

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