Folha de S. Paulo
Arrecadação federal piora e contas públicas
dependem ainda mais de pacote de impostos
Depois de umas semanas de
estranhamento, Fernando
Haddad parece ter acertado com Arthur Lira pelo
menos a
votação de mais impostos sobre ricos (fundos exclusivos e offshores),
na semana que vem. Talvez não venha tanto imposto quanto quer o ministro da
Fazenda; nem é grande dinheiro. Mas é alguma coisa, ainda mais tendo em vista o
péssimo ambiente no Congresso e a situação das contas do governo, que azedam a
cada mês.
Lira, o presidente da Câmara, é um dos responsáveis pela operação tartaruga, obstruções, greves e revoltas parlamentares que andam atrapalhando as tramitações de projetos importantes. A coisa anda emperrada também porque Luiz Inácio Lula da Silva tem dito que vai ceder cargos gordos quando lhe der na telha.
A receita do governo federal anda mal das
pernas. O pessoal do Ministério
da Fazenda acreditava que a situação melhoraria a partir de maio, com
um ritmo melhor da economia e com a entrada de recursos extras. A
situação piorou desde maio.
Na soma dos últimos 12 meses, a arrecadação
caiu R$ 83,8 bilhões (receita líquida, em termos reais: descontada a inflação).
É um valor equivalente à metade do que se deve gastar neste ano com o pagamento
do Bolsa
Família (R$ 167 bilhões).
Já era sabido que a arrecadação
não andaria no ritmo de 2022. A receita do governo até o ano passado foi
alimentada por inflações, dividendos gordos de estatais, preços altos de
commodities (como petróleo).
Ainda assim. A frustração está além da conta.
A receita líquida caiu 4,3% em 12 meses (ante 12 meses anteriores). A despesa
aumentou 3,5%.
A grande perda de receita vem daquelas
rubricas "não administradas pela Receita Federal". Não são
propriamente impostos. São dinheiros de concessões (de serviços públicos a
empresas privadas, por exemplo), participações, dividendos, receitas de
exploração de recursos naturais (no grosso, petróleo e minério de ferro). Mas
também cai a receita de impostos (1,2%).
O gasto total aumentou em cerca de R$ 65,6
bilhões.
O maior aumento de despesa vem do Bolsa
Família, até agora de R$ 66,7 bilhões (e vai aumentar mais, até dezembro). A
despesa com servidores caiu cerca de R$ 8 bilhões; o gasto com saúde e educação
também diminuiu.
Nestes 12 meses contados até agosto, o gasto
federal foi de R$ 1,95 trilhão. É despesa primária. Não inclui gasto com
pagamento de juros da dívida pública. A receita líquida (descontados repasses
obrigatórios para estados e municípios) foi de R$ 1,88 trilhão. Gastou-se mais
porque houve reajustes de benefícios sociais, em resumo.
Por ora, a perspectiva de cumprir as metas
fiscais (déficit menor ou até zero, em 2024) está mais distante. Ainda que
Haddad consiga apoio do Congresso, no que até agora até vinha tendo sucesso, o
dinheiro a ser obtido será enxugado por parlamentares; ainda assim, não é certo
que tal ou qual aumento de imposto venha a render o previsto pelo governo. No
mais, resta a esperança de que as empresas venham a pagar mais imposto do que o
têm feito neste ano, até agora. Que o preço das commodities (petróleo) renda
algum.
Os grandes aumentos de despesa (gasto social)
estão contratados e, no curto ou no médio prazo, são praticamente
irreversíveis. O que restaria a fazer seria conter reajustes de benefícios, o
que Lula não quer. A despesa com servidores passou por grande corte na última
década. Restam poucas alternativas.
Lula terá de se entender com o Congresso a
fim de conseguir mais impostos e, além disso, evitar que os parlamentares,
petistas e governistas inclusive, votem a lista de bombas de aumentos de
despesa que está na pauta.
O governo está no mato sem cachorro.
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