O Globo
Apuração sofre nova reviravolta e será
federalizada após delação de ex-PM
A investigação da morte de Marielle Franco
passa por nova reviravolta. Há poucos dias, o inquérito que apura o assassinato
da vereadora e do motorista Anderson Gomes saiu do Rio e foi enviado ao
Superior Tribunal de Justiça. O motivo é o surgimento de novas suspeitas sobre
Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.
Na prática, a mudança de foro fará com que a
investigação seja federalizada. Isso ampliará os poderes da Polícia Federal,
que voltou ao caso no início do ano por determinação do ministro Flávio Dino.
Em março, a Justiça do Rio rejeitou uma
primeira denúncia contra Brazão. Ele havia sido acusado de plantar pistas
falsas para atrapalhar a identificação dos mandantes do crime.
O ex-deputado estadual voltou à mira após a delação premiada do ex-PM Élcio Queiroz. Num trecho que já veio a público, ele confessou ter dirigido o carro usado no ataque e confirmou que Ronnie Lessa foi o autor dos disparos.
Citado no relatório da CPI das Milícias,
Brazão é chefe de um clã que inclui o deputado federal Chiquinho Brazão, o
deputado estadual Manoel Brazão e o vereador Waldir Brazão, um agregado que
adotou o sobrenome para fins eleitorais.
O conselheiro sempre negou participação no
assassinato de Marielle. Em março, quando o crime completou cinco anos, ele foi
autorizado pelo Tribunal de Justiça do Rio a voltar ao TCE. Estava afastado
desde 2017, quando foi preso por suspeita de corrupção na Operação Quinto do Ouro.
Barroso e a crise
No primeiro dia como presidente do Supremo
Tribunal Federal, o ministro Luís Roberto Barroso disse não ver uma crise entre
a Corte e o Congresso.
“Honesta e sinceramente, diria que não vejo
crise. O que existe em qualquer democracia é a necessidade de relações
institucionais fundadas no diálogo, na boa vontade e na boa-fé”, declarou.
O ministro tem espírito conciliador e está
interessado em reduzir a tensão com o Senado e a Câmara. Mas a crise existe e
escalou na última semana, com ameaças mais ou menos explícitas ao Judiciário.
Na quarta-feira, o Senado aprovou o projeto
de lei do marco temporal. O texto vai na contramão do julgamento que derrubou a
tese anti-indígena no Supremo. Foi votado às pressas com aval do presidente
Rodrigo Pacheco, que pautou o assunto a pedido de senadores invocados com a
Corte.
Na Câmara, a bancada ruralista bloqueou
votações para manifestar irritação com o Supremo. Em ato da Frente Parlamentar
da Agropecuária, a deputada Caroline de Toni elevou o tom e sugeriu uma
retaliação armada no campo. Ao comentar o julgamento, disse que os invasores de
terras indígenas “não querem indenização”.
“A decisão do marco temporal, que vem
relativizar a propriedade privada e gerar uma imensa insegurança jurídica, vai
trazer um banho de sangue ao campo brasileiro”, afirmou a bolsonarista do PL.
A deputada não falou em crise, mas suas
palavras passaram longe do diálogo, da boa vontade e da boa-fé esperada por
Barroso.
É o esperado.
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