O Globo
Depois de dizer que estado "estava no
caminho certo", governador fala em "quebradeira" e ameaça
atrasar salários
O governador do Rio começou a semana de pires
na mão. Foi a Brasília pedir mais um refresco no regime de recuperação
fiscal. Cláudio
Castro se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na
saída, falou em “quebradeira” e disse que o Rio não tem “a menor condição” de
pagar o que deve no ano que vem.
“Nosso problema vai causar fome no estado,
vai causar atraso de salário. E isso é algo que a gente não pode deixar
acontecer”, afirmou.
Quem acompanha a política do Rio já se
acostumou a esse tipo de apelo. A novidade é ver Castro no papel de pedinte.
Até outro dia, ele jurava que as contas públicas estavam em ordem. “Estamos no
caminho certo”, repetia.
Em agosto, o governador soltou fogos quando uma agência de classificação de risco recalibrou os critérios para o Brasil. A mudança melhorou a nota de diversos estados, mas Castro usou a notícia para fazer autopromoção.
O que o governador chamou de “nosso problema”
é um rombo de R$ 8,5 bilhões nas contas de 2024. O número está no Projeto de
Lei Orçamentária Anual apresentado ontem à Assembleia Legislativa.
O estado prevê arrecadar R$ 104,5 bilhões e
gastar R$ 113 bilhões no ano que vem. Diante do buraco, seria preciso fazer
mágica para pagar R$ 8 bilhões na rolagem da dívida com a União.
“Parece que agora o governador acordou”,
ironiza o deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha. Ontem ele classificou a situação
do estado como “trágica”. “Estamos vivendo à beira do abismo. Mais um
empurrãozinho e vamos lá”, alertou, na tribuna da Alerj.
Na terça-feira, Castro tentou se eximir de
culpa pelo rombo. Afirmou que a condição de pagamento da dívida “foi alterada
por uma situação fora do nosso controle, que foi uma lei federal”. O governador
se referia à redução do ICMS sobre combustíveis, energia elétrica e
comunicações, sancionada em junho de 2022. Faltou dizer que ele comemorou a
medida populista, baixada por seu aliado Jair Bolsonaro às vésperas da eleição.
Em 2021, o Rio turbinou o caixa com R$ 14
bilhões da privatização da Cedae. A receita extraordinária ajudou Castro a se
reeleger, mas não se repetirá nos próximos anos. “O governador meteu o pé na
jaca. Agora o dinheiro acabou, não tem mais nada para vender”, diz o deputado
Luiz Paulo.
Pois é.
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