O Globo
Ao demitir presidente da Caixa, Lula se rende
a Lira e cede mais uma vez à chantagem do Centrão
Em setembro, Arthur Lira anunciou as
condições para destravar a pauta econômica do governo. O chefão da Câmara havia
acabado de emplacar o afilhado André Fufuca no Ministério do Esporte. Apesar
disso, não estava satisfeito. Exigia a Caixa Econômica Federal “de porteira
fechada”. “Esse foi o acordo”, informou, em entrevista à Folha de S.Paulo.
A cobrança pública irritou Lula, que pôs a troca em banho-maria. “Só eu tenho o direito de colocar, só eu tenho o direito de tirar”, reagiu. Lira segurou a língua, mas continuou a bloquear as votações na Câmara. Na quarta-feira, o deputado venceu o cabo de guerra. O presidente demitiu a presidente da Caixa, Rita Serrano, e entregou o comando do banco ao Centrão.
Ao se despedir, Serrano sugeriu que perdeu o
cargo por ser mulher. “Espero deixar como legado a mensagem de que é preciso
enfrentar a misoginia”, escreveu. Em quatro meses, ela foi a terceira
integrante da cúpula do governo substituída por um homem indicado pelo grupo de
Lira. Mas a discriminação de gênero não é o motivo principal das mudanças.
Ao rifar as auxiliares, Lula se curvou ao
jogo bruto do pupilo de Eduardo Cunha. Rendeu-se à ameaça e à chantagem
parlamentar. A divisão de poder faz parte da democracia, mas ninguém pode
negociar com a faca no peito. Nessas condições, acordo político vira eufemismo
para achaque.
Na sexta-feira, o presidente tentou dar ares
de normalidade à barganha com o Centrão. “Não vejo nisso nenhum problema”,
desconversou, em café da manhã com jornalistas. “Eles juntos têm mais de cem
votos, e eu precisava desses votos para continuar a governar”, acrescentou,
referindo-se ao bloco comandado por Lira.
A água e o asfalto
Na terça, Lula descreveu a seca na Amazônia
como “uma demonstração de que a questão climática é mais séria”. “O planeta
está se revoltando. O planeta está dizendo: ‘Não me destruam, porque sou capaz
de destruir vocês antes’. E o ser humano precisa pensar nisso”, afirmou, em seu
programa semanal de rádio.
A seca já afeta mais de 600 mil pessoas
apenas no Amazonas. Dos 62 municípios do estado, 60 terminaram a semana em
situação de emergência. O Rio Negro, que banha Manaus, vive a maior vazante em
121 anos de medição. A estiagem isola comunidades ribeirinhas, compromete a
pesca e dificulta o acesso à água potável.
Em meio à crise climática, aliados do governo
tentam liberar na marra o asfaltamento da BR-319. Um dos campeões do lobby é o
senador Omar Aziz, que já chamou a ministra Marina Silva de “retrógrada” por
apontar problemas ambientais no projeto.
Estudos mostram que a pavimentação de
rodovias favorece a grilagem de terras e acelera o desmatamento ilegal da
floresta. Na prática, liberar esse tipo de obra equivale a contratar novas
secas — iguais ou piores que a atual.
Lula deveria sair em defesa da ministra,
mesmo que isso o obrigue a contrariar aliados. Parece mais fácil apelar à
consciência alheia e discursar sobre os humores do planeta.
Estão pondo fogo no planeta...
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