Folha de S. Paulo
Briga envolve órgãos sensíveis, sob o comando
de delegados que disputam influência no círculo de Lula
A Polícia
Federal fez uma batida na sede da Abin na
semana passada. A ação mirou agentes que operavam um
sistema secreto de monitoramento de celulares no governo Jair Bolsonaro. O
que deveria ser só uma investigação sobre a bisbilhotagem feita pelo órgão de
inteligência também virou uma intriga institucional.
A Abin reclama que a PF invadiu seu quintal. A agência argumenta que interrompeu o uso do sistema em 2021, abriu uma apuração interna e colaborou com investigadores. Alega ainda que a operação cria o risco de vazamento de dados sigilosos. Em outras palavras, o órgão sugere que não confia na Polícia Federal.
O sentimento parece recíproco. Dos corredores
da PF, saíram informações de que a operação foi feita porque a apuração da Abin
era insuficiente. As ações, portanto, eram necessárias para o inquérito
policial —ou seja, não haveria tratamento diferenciado para a agência.
Se a Abin montou uma estrutura de arapongagem
ilegal, a investigação da Polícia Federal era a iniciativa mais natural do
mundo, mesmo que a estrutura já tivesse sido desmontada. A queda de braço
provocada pelo episódio deveria ser motivo de inquietação para o governo.
A briga envolve dois órgãos sensíveis do
aparato presidencial, sob o comando de dois delegados que disputam influência
nesse círculo. O chefe da PF, Andrei Rodrigues, é homem de confiança de Lula. O diretor da
Abin, Luiz Fernando Corrêa, foi escolhido para sanitizar a agência depois dos
anos Bolsonaro.
Nenhum deles fará um trabalho correto
enquanto estiver preocupado com blindagens e puxadas de tapete. Na quarta (25),
o chefe da Abin foi ao Congresso e citou o que chamou de "politização e
disputas mesquinhas de poder com a inteligência de Estado". É difícil
discordar.
O conflito não é exatamente novo. Há 15 anos,
no segundo mandato de Lula, os dois órgãos também se estranharam depois
que a
Polícia Federal fez uma operação na Abin. Na época, o diretor-geral da PF
era o delegado Luiz Fernando Corrêa.
Pois é.
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