terça-feira, 17 de outubro de 2023

Dora Kramer - A cara do Brasil

Folha de S. Paulo

Repatriação de Israel mostra a melhor face de um país que pode muito quando aciona seus reais ativos

Se nos falta cacife geopolítico para mediar conflitos mundo afora, sobra-nos capital em áreas em que o Brasil está, ou poderia e deveria estar, entre as nações influentes no mundo. Na cultura, no regramento ambiental, no acolhimento a imigrantes, na imagem de amabilidade projetada por nosso povo.

Por isso não se justifica a pretensão do caminhar a passos maiores que as pernas, um jeito gerador de frustração e descrédito, quando podemos fazer uso de nossos reais ativos para realmente nos destacar e, mais importante, ajudar na proporção de nossas capacidades.

Vivemos agora um exemplo eloquente na operação de repatriação dos brasileiros de Israel e nas negociações para a retirada de Gaza de cidadãos nacionais. O presidente Luiz Inácio da Silva foi célere na ordem, e o Ministério da Defesa, as Forças Armadas e o Itamaraty foram de notável eficiência nas ações compartilhadas.

Estava no domingo (15) pensando nisso quando resolvi perguntar ao ministro José Múcio, da Defesa, a razão do sucesso: "Deu certo porque fizemos o que sabemos fazer de melhor, que é sermos fraternos", respondeu de pronto. E acrescentou: "Quando queremos imitar os outros no acirramento de ânimos nos damos mal, não é da nossa natureza".

Na opinião dele, o trabalho da diplomacia no planejamento e na negociação, e da Aeronáutica na execução desde a noite do fatídico 7 de outubro, alcançou um resultado que define como "a cara o Brasil".

No governo já se articula a possibilidade de estender o mesmo tipo de ajuda a outros países que solicitarem, notadamente os vizinhos, assim que todos os brasileiros que quiseram retornar estiverem em segurança no Brasil.

Contrasta com a índole amigável, e em alguma medida a desmente, o embate raivoso que se vê nas redes sociais. Um ambiente de fúria que nos leva a um terreno onde não sabemos transitar. Um recuo à amabilidade seria o melhor remédio. Enquanto é tempo.

 

Um comentário: