Folha de S. Paulo
Enquanto olhamos para a guerra, partidos
trabalham para triplicar valor do fundo eleitoral
O mundo atemorizado com o Oriente Médio e
por aqui suas altezas parlamentares quedam-se empenhadas em como solapar o
Orçamento da União para financiar a eleição de
prefeitos e vereadores no ano que vem.
Enquanto olhamos para o horror,
os partidos aproveitam o momento de desatenção para o que se passa no Congresso
Nacional para tocar adiante a ideia de
triplicar o montante do fundo eleitoral em relação ao que
receberam em 2022 —em muitos casos com mau uso que, depois, para todos se pede
anistia.
No último pleito municipal foram R$ 2 bilhões, algo já exorbitante quando se trata da transferência de dinheiro público para associações de direito privado que deveriam buscar formas lícitas de se sustentar. Pois agora pretendem obter três vezes aquela soma.
Os mais modestos propõem R$ 5 bilhões, R$ 100
milhões a mais que os R$ 4,9 bilhões postos à disposição dos partidos na
presidencial de 2022. Os menos recatados falam da
necessidade de R$ 6 bilhões. O que, além da ganância e do total
descompromisso com a realidade, justificaria tal pretensão?
Segundo os requerentes, precisam de muito
dinheiro para conseguir fazer boas campanhas. Não passa por suas cabeças que o
êxito das respectivas empreitadas na caça aos votos está diretamente ligado à
melhoria do desempenho no atendimento às expectativas do eleitorado. Seria um
estímulo a doações, uma das formas adequadas de arrecadação de recursos.
O governo, de modo cínico, oferece pouco mais
de R$ 939 milhões, sabendo perfeitamente que o donativo não será aceito, pois
considerado irrisório. Deixa o desgaste para o Parlamento a fim de disfarçar
sua condição de sócio nessa expedição.
O Planalto não brigará muito pela contenção
nem vai se empenhar pela inversão da lógica segundo a qual o cidadão é coagido
a financiar de maneira descomunal representantes cuja última preocupação é a de
corresponder à altura a obrigatoriedade do voto.
Pois é.
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