Folha de S. Paulo
Se não colocarem a bola no chão, STF e Congresso enfraquecerão a
democracia
Há que se chamar ao exercício da moderação o Congresso e o Supremo
Tribunal Federal. Apelar à observância do pressuposto maior da
política em seu sentido nobre: a construção de consensos a partir de dissensos.
Instituições que —cada qual a seu modo e grau de intensidade—
resguardaram a legalidade, enfrentaram os achaques golpistas de um presidente
da República e, assim, reforçaram a democracia, agora atuam para enfraquecê-la.
Fricções são normais entre Poderes, por independentes. Já atritos ao molde de conflitos pedestres, ferem o preceito da harmonia. Pois é isso o que vemos no rebuliço armado entre o Parlamento e a corte maior do Judiciário.
Não deveria ter acontecido, mas aconteceu. E aqui o que menos importa é
quem começou, quem grita mais ou quem tem menos razão. Ambos têm suas
motivações (honrosas e/ou desonrosas) que, no entanto, não justificam disputas
por protagonismo.
O STF falha na autocontenção e o Congresso
não se contém na provocação. Há inegáveis exageros na corte, como se observa em
determinadas decisões, notadamente as monocráticas, e no evidente engajamento
político de alguns juízes.
Os parlamentares, por seu lado, pretendem se imiscuir no funcionamento
do tribunal e para isso extrapolam em propostas sabidamente inconstitucionais
apenas para afetar combatividade.
Há um quê de exibicionismo de ambas as partes, indisfarçável até mesmo
nas palavras amenas dos comandantes dos Poderes. As falas mansas são
contrariadas pelo desassossego dos atos que a cada dia acrescentam um ponto no
atrito.
Para chegar aonde? A qual destino levará o cabo de guerra? Quem ganhar
essa ou aquela disputa pontual fica com que tipo de troféu? Não há vencedores
nesse horizonte onde viceja a instabilidade sem resultados.
Perderemos todos se suas altezas legislativas e judiciais não colocarem
essa bola no chão em nome do bom andamento dos trabalhos institucionais.
Não vejo nenhum deslize do Supremo.
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