O Estado de S. Paulo
EUA são o fator decisivo e o Brasil assume sua real dimensão na guerra de Israel
O terror do Hamas em Israel foi o estopim da
guerra em Israel. O êxodo imposto por Israel em Gaza pode ser o estopim para
atrair os países árabes para o conflito. E a participação direta, in loco, de
Estados Unidos e Europa, inclusive com porta-aviões e navios, pode ser o
estopim para o acirramento da disputa entre potências, já muito sensível com a
invasão da Rússia na Ucrânia.
Essa é a avaliação, e o temor, de Planalto e Itamaraty diante da escalada da guerra, evidente na sexta-feira dos horrores: o ultimato de Israel para os palestinos em Gaza, a guerra de propaganda usando crianças, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, anunciando pesados armamentos, de ar, terra e mar, para o já hiperarmado Israel, o confronto na fronteira do Líbano com morte de jornalistas...
A ressalva do governo brasileiro é que, ao
mesmo tempo que os EUA reforçam apoio incondicional a Israel, com fotos,
declarações e armas, também agem diplomaticamente contra a matança de civis e
crianças, mediando uma solução de emergência e buscando condições para evitar o
“espraiamento” da guerra pelo Oriente Médio.
“Os EUA podem andar e mastigar chiclete ao
mesmo tempo”, disse Austin, referindo-se ao apoio simultâneo à Ucrânia e a
Israel. A frase vale também para a atuação política na guerra contra o Hamas.
Enquanto Austin atiçava a guerra em Tel-Aviv, o secretário de Estado, Antony
Blinken, saía de Israel para Jordânia, Catar e Bahrein para evitar que o
conflito se espalhasse na região.
Neste sábado, com o presidente da Autoridade
Palestina, Mahmoud Abbas, Blinken reiterou a condenação dos EUA aos
“abomináveis ataques terroristas do Hamas” e só apresentou “condolências” às
famílias dos civis palestinos mortos, mas reforçou os EUA no centro de uma
solução. O Brasil, inclusive, vê o fator EUA no adiamento do ataque por terra a
Gaza. O prazo para a evacuação era 18h de sexta-feira (horário de Brasília),
mas nada ocorreu e não se sabe se e quando ocorrerá.
Em meio a um terrível suspense, os dois lados
abusam grotescamente de imagens de crianças. Israel divulga fotos de bebês que
teriam sido decapitados pelo Hamas, que espalha imagens que seriam de
terroristas com bebês israelenses nas áreas ameaçadas, como escudos humanos.
Enquanto os EUA assumem a liderança na nova
guerra, o Brasil faz uma operação impecável de resgate de brasileiros em Israel
e um esforço concentrado para trazer os de Gaza, mas se envolve em missão
(quase) impossível: buscar algum consenso do Conselho de Segurança da ONU em
torno da questão humanitária. Com EUA, França e Reino Unido de um lado e China
e Rússia de outro? Parece muita areia para o caminhãozinho Brasil.
Pois é.
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