sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Eliane Cantanhêde - Urgência urgentíssima em reunião na ONU

O Estado de S. Paulo

Brasil articula o único consenso possível na ONU: a questão humanitária, os civis e as crianças

Ao convocar uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU para esta sexta-feira, o Brasil sacou a única chance de não dar em nada: focar na questão humanitária. A guerra exige urgência, e discutir a toque de caixa uma solução para um conflito que dura décadas, ou carimbar ou não de terrorista o grupo efetivamente terrorista Hamas, seria perda de tempo, ou até o acirramento do racha internacional. Mas quem pode se manifestar contra o massacre de crianças, mulheres e civis? E a decapitação de bebês? Esse é o consenso possível.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, apoia essa linha, mas há obstáculos a um consenso: a polarização mundial e a exigência de pelo menos nove dos 15 votos do conselho e de nenhum veto entre os cinco países que são membros permanentes. Será?

Lula desperdiçou a guerra da Ucrânia e tenta se equilibrar na de Israel para perseguir seu velho sonho de protagonismo, dele e do Brasil, nos debates internacionais, até com o cada vez mais distante Nobel da Paz. É agora ou nunca, com o Brasil na presidência rotativa do Conselho de Segurança justamente durante o ataque insano do Hamas, ameaçando o Oriente Médio e a geopolítica mundial.

Se Lula não citou o Hamas, mas condenou no primeiro momento o “ataque terrorista”, as notas do Itamaraty não citam nem o grupo nem o termo “terrorista” e trataram o assassinato de dois jovens brasileiros, Ranani Glazer e Bruna Valeanu, como “falecimento” e “morte”. Assim como terrorismo é terrorismo, assassinato é assassinato. A acusação dos opositores do governo e do PT é de condescendência com o Hamas, o que fragiliza a posição, o discurso interno e as aspirações internacionais de Lula.

A explicação do governo é, como sempre, com a tradição diplomática brasileira de não fechar portas. Assim como avaliava que a Rússia tinha lá suas razões, analisa agora que o Hamas tem lá as suas, após anos e anos, décadas de uma rotina de maltrato e humilhações. O consenso internacional, porém, é de que não há como mitigar nenhum dos dois casos: nada justifica a Rússia invadir a Ucrânia e o Hamas massacrar a população civil e sequestrar mulheres e crianças israelenses. Nem a reação devastadora de Israel contra civis em Gaza.

Em tudo há dois lados e razões históricas, mas a questão agora é a barbárie. O foco está no hoje, no agora e na urgência dos civis, além de estar, também, no risco de uma escalada de proporções ainda inimagináveis.

 

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