O Globo
É preciso admitir que, sozinha, uma política
social generosa não resolve o problema da violência urbana
Quando visitei o México ainda no século
passado, minha tarefa era entrevistar o presidente Salinas e, nas horas vagas,
visitar o Museu de Antropologia e a casa de Diego Rivera e Frida Kahlo,
onde Trotsky se refugiou. Não tinha na época o interesse que tenho agora por
estudar a violência no
México, algo que, não sei exatamente por que, pode iluminar algumas saídas para
o Brasil.
Nas viagens virtuais de agora, não me
interessa comparar os índices dos dois países. Tenho a sensação de que a
situação lá é um pouco pior, com tantos sequestros e crimes sexuais, além do
poderio dos cartéis de droga, voltados para o maior consumidor mundial,
os Estados
Unidos.
Ao examinar os dois países, sinto que a fronteira, ou melhor, as fronteiras têm grande peso. O México não consegue controlar a fronteira com o grande vizinho; o Brasil, por seu lado, não tem meios para evitar que grandes carregamentos de droga escoem por seu território em direção à África e à Europa. Sem controlar as fronteiras, não vejo condições de pelo menos reduzir o fluxo da drogas.
O México eventualmente tem ajuda dos Estados
Unidos. Tanto ele quanto o Brasil podem se beneficiar da queda da produção de
cocaína na Colômbia,
mas isso é muito pouco. Os cartéis mexicanos são versáteis e competitivos.
Quando a competição se acirra, além de trocar tiros, migram para novos
produtos. O cartel de Jalisco adotou a metanfetamina no seu cardápio.
Outro aspecto que nivela Brasil e México na
questão do combate à violência: não há esforço orçamentário à altura, esforço
permanente. Quando a coisa aperta, surgem campanhas para encher os olhos.
A impunidade é considerada um importante
fator de estímulo à violência nos relatórios que li. O mesmo problema existe no
Brasil. Acontece que, lá, há métodos que podem confundir o espectador. Alguns
grupos amigos são protegidos, enquanto seus rivais são perseguidos com rigor, o
que dá uma falsa impressão de eficácia.
Outro fator que parece comum é a impunidade.
No México, as pessoas desaparecem, e as famílias passam anos buscando pistas de
seu paradeiro. Aqui no Brasil, os índices de solução de homicídios são muito
baixos. O miliciano que se parecia com o médico assassinado foi condenado a
oito anos, em 2022, e já está solto.
É difícil pensar numa política de segurança
que atravesse governos e se dedique a tratar desses macroproblemas. Vejo os
carros blindados desfilando nas imagens de TV e me pergunto se têm alguma
utilidade.
O governo enfatiza a necessidade de inteligência
e investigação. Mas essas especialidades, no meu entender, combinam melhor com
pequenos grupos de ação destemidos e bem treinados que possam realizar ações
pontuais. Creio ter visto uma série televisiva de Israel dedicada a esse
modelo. É algo que não está condicionado a uma visão de mundo, mas pede, entre
outros, bons equipamentos de localização e comunicação.
Além das questões mencionadas, apenas um
esboço, é importante estudar os princípios da guerra assimétrica. Tive a
oportunidade de entrevistar o coronel Alessandro Visacro, que escreveu um livro
sobre o tema. É um estudo das táticas de grupos numericamente inferiores que
usam a população como escudo. Entrar atirando numa comunidade é fazer o jogo
deles.
Ao enfatizar o controle de fronteiras, o orçamento
adequado, o combate à corrupção policial e as táticas adequadas para a tarefa,
não quero dizer que isso soluciona tudo. Antes que me critiquem, sou favorável
a uma política social generosa e acho que, sem ela, não se caminha. No entanto
é preciso admitir que, sozinha, ela não resolve o problema da violência urbana.
É preciso uma política de segurança
Na verdade, é preciso também haver novas
políticas de droga. No México, os dois governos que fizeram a guerra
fracassaram. López Obrador, o atual presidente, lançou o slogan “Abraços, e não
disparos”. Também não funcionou.
É difícil encontrar o tom e o caminho. Mas é
preciso continuar tentando.
''Amai o próximo como a ti mesmo'',a resolução está aí,simples e complexo assim.
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