O Globo
Zema é o primeiro caso de político mineiro a
arrumar encrenca dia sim dia não
Um clima de barata voa emana das hostes
bolsonaristas. A troca de gentileza entre os antigos aliados, agora inimigos
íntimos, pela escolha dos adjetivos, aponta a vizinhança de uma guerra suja — e
sem regras. Desde que Bolsonaro se tornou uma vaga ambulante, à semelhança de
um miasma amedrontado, instalou-se um tiroteio de declarações e tuítes em
direção a qualquer nome que ouse sair detrás da moita. Há um racha na extrema
direita, e não é a conhecida rachadinha.
Por sorte, é pública. Beira quase uma luta de
UFC com dedo no olho, pé nas costas, erros de concordância e os célebres
sujeitos ocultos. Em linguagem comum: se dá no momento uma briga — disputa? —
por território. Como Bolsonaro é um vácuo — e, na política, não há espaço vazio
—, o que se presencia é uma luta pelos pontos. Ou bocas.
A discórdia — não que um dia tenham vivido em
concórdia, na santa paz do Senhor, longe disso — entre os personagens
bolsonaristas tem potencial para arruinar várias carreiras. Vai doer depois no
bolso do fundo eleitoral, e, sabemos, quando há muito dinheiro fácil, sem
necessidade de recibo, difícil chegar a um acordo (pelo qual alguém ganha, e
vários perdem). Com a cisão ora em trânsito, em que se briga pela divisão
ideológica do butim, o impacto eleitoral já se desenha no horizonte. A
incapacitação de Bolsonaro (desculpem o pleonasmo) acabou com a comunhão entre
os defensores da cloroquina. Embora avise que ainda esteja vivo, pairam dúvidas
em torno de seus sinais vitais. Não à toa, investe seu tempo em consultas a
advogados e em roubar as plateias reunidas por sua mulher.
Os inimigos íntimos, então, se alvoroçam.
O primeiro caso clínico vem de Minas, com o
governador Romeu Zema, ora brandindo palavras contra os nordestinos, ora de
olho nas joias da butique bolsonarista. É o primeiro caso de político mineiro a
arrumar encrenca dia sim dia não, em muitas frentes. Falando de corda em casa
de enforcado, pediu a união da direita ao lado dos filhos do capitão. Até Zambelli
é menos inábil. De resultado, tomou alguns xingamentos — foi chamado de idiota
pelo vereador Carlos
Bolsonaro. A outra alcunha — cara de pastel — estaria mais para
passa-anel ou “olha a cobra!” junina do que ataque xiita. Não parece relevante.
Mesmo assim, temos de acompanhar a evolução da coreografia.
Um segundo caso, de tamanha crise de
identidade, se desenrola em São Paulo, com o envolvimento de personagens
pintados para a guerra santa. Sabendo que Bolsonaro foi derrotado por Lula na
eleição presidencial; e onde as pesquisas mostram a população descrente na
possibilidade de sua reencarnação — ao menos nesta vida. A não ser que haja um
milagre. Disposto a roubar a bola, o deputado Ricardo Salles voltou a se
colocar como candidato nas próximas eleições, em desafio à orientação de seu
partido, o notório PL do Valdemar, que se mostra desejoso de uma aliança com o
atual prefeito, Ricardo Nunes,
um ex-bolsonarista de ocasião. Nunes entrou na linha de tiro pela melosa
confissão de não querer declarar seu amor incondicional ao ex-presidente.
Bastou para ser xingado em vários tuítes. Sacaram seu jogo e mandaram avisar
que, sem beijo na boca, não tem casamento. Daí que Salles voltou a se colocar
no desfile com seus terninhos apertados. Embora seja traço com louvor nas
pesquisas, é mais uma divisão na direita.
Algo a esquentar a campanha será o tema da
privatização e seus efeitos na economia popular. Nos antigos cemitérios
públicos paulistanos, agora administrados por concessionárias privadas,
dispararam os preços. A taxa de sepultamento sofreu aumento, desde março
passado, de 464%. O preço do caixão mais barato subiu 357% no mesmo período.
Não é questão ideológica, mas terrena.
As intrigas continuam. A cada nova
investigação aberta sobre o capitão, a trama da tragicomédia ganha mais
personagens. Interessante que o roteiro não contempla nenhum mocinho, tampouco
galã. Todos parecem dispostos a posar de vilões. Sempre atrasado, necessitado
de tradução simultânea para sua prosódia data venia, o presidente do
Senado, Rodrigo
Pacheco, irrompeu no palco da extrema direita atirando no inimigo da
hora, o STF. Em dois movimentos, se colocou à direita de Carluxo, como se
existisse tal categoria sociológica. Sua visão sobre a descriminalização do
porte de drogas, de tão retrógrada, fez o pastor e deputado Marco Feliciano
franzir a sobrancelha mais bem cuidada da extrema direita latino-americana.
Estamos apenas no começo da corrida
eleitoral, e já se amontoam os corpos.
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Não tinha me dado conta de que o general
Heleno é cinco anos mais novo que Mick Jagger.
● " Zema é o primeiro caso de político mineiro a arrumar encrenca dia sim dia não ".
ResponderExcluirKkkkk kkkkk.....
Espiritualmente falando é mais velho cinco séculos,rs.
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