quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Guilherme Casarões* - Urgência de uma solução global

O Globo

Só ação concertada da comunidade internacional poderá sustar as agressões e criar condições para uma Palestina soberana

Na última quarta-feira (11), em meio a cenas de absoluto horror em Israel e Gaza, o presidente brasileiro publicou uma nota pessoal sobre o conflito no Oriente Médio. Nela, Lula faz um apelo em defesa das crianças palestinas e israelenses, pede o cessar-fogo na região e destaca a urgência de uma “intervenção humanitária internacional” diante da escalada de violência.

O Brasil ocupa lugar privilegiado nessa discussão. Tem histórico de boas relações com Israel e Palestina, faz comércio com ambos e sempre trabalhou pela superação do conflito no âmbito da ONU. Neste momento, ocupa a presidência do Conselho de Segurança e tem o poder de pautar a agenda do órgão.

As próximas reuniões darão o tom da resposta internacional à guerra em andamento. Mas o consenso é difícil, até mesmo para criar um corredor humanitário que possa assegurar a saída dos palestinos pela fronteira egípcia. No momento, 1 milhão de palestinos ruma ao sul fugindo dos bombardeios israelenses — e o número de mortos em Gaza só aumenta.

Há algo de concreto que a comunidade internacional possa fazer a respeito? Uma solução que contemple o fim da violência e renove as condições para que os palestinos tenham seu próprio Estado não é só necessária, como também urgente. Esse foi o paradigma que guiou os Acordos de Oslo, em que lideranças israelenses e palestinas, sob os olhos atentos do mundo, deram passos concretos para tal fim.

Mediadas pelos Estados Unidos, as conversas de Oslo produziram avanços importantes. Criaram a Autoridade Palestina, garantiram sua autonomia sobre áreas da Cisjordânia e de Gaza e estabeleceram parâmetros para a resolução dos temas mais espinhosos — o status de Jerusalém, a questão dos refugiados palestinos e os arranjos específicos de segurança.

Trinta anos depois, a situação retrocedeu a passos largos. A progressiva construção de assentamentos judaicos ilegais na Cisjordânia torna praticamente impossível que ali se instale um Estado palestino. O fortalecimento do Hamas e de sua estratégia de terrorismo inviabiliza qualquer diálogo racional entre israelenses e palestinos que querem a paz, mas vivem pautados pelo medo. Menos apoiam a solução de dois Estados hoje que no passado.

O quadro só se agrava diante de sociedades absolutamente fraturadas. Israel vive a maior crise política de sua história, marcada pela pulverização das forças políticas, pela radicalização dos governos e por protestos populares contra o premiê Benjamin Netanyahu. Brutalizados pelo Hamas e pela prolongada ocupação e frustrados com suas próprias lideranças políticas, os palestinos não conseguem vislumbrar qualquer perspectiva de independência.

Mais do que nunca, a comunidade internacional deverá agir de maneira construtiva. Sabemos que a mediação americana é indigesta para os palestinos e para muitos outros países que, compreensivelmente, veem nos americanos uma força pró-Israel. Mesmo que os Estados Unidos sigam na equação, fica claro que eles não poderão mais atuar sozinhos.

Há precedentes para a participação de outros países na busca de uma solução. A Liga Árabe ofereceu um plano de paz em 2002 e 2007, com apoio dos Estados Unidos. As poucas negociações que avançaram desde Oslo ocorreram no marco do Quarteto, quando americanos trabalharam em conjunto com outros atores: Rússia, União Europeia e ONU.

O mundo multipolar de hoje abre oportunidade para a participação de outros países. Aí se inscreve a atuação da diplomacia brasileira. Ainda não se sabem os detalhes da “intervenção humanitária” anunciada pelo Brasil. Mas a escolha das palavras, algo nunca trivial na diplomacia, mostra que o Brasil quer assumir outro tipo de protagonismo.

Nestes tempos de apreensão e sofrimento, somente uma ação concertada da comunidade internacional poderá sustar as agressões e criar condições para a criação de uma Palestina soberana. É imprescindível quebrar o ciclo de violência. Para isso, as nações comprometidas com a paz deverão considerar seriamente um grande esforço humanitário no terreno, que desmobilize extremistas e abra caminho ao diálogo.

*Guilherme Casarões é cientista político e professor na FGV EAESP

3 comentários:

  1. A IMAGEM INTERNACIONAL DO BRASIL

    ■Quem no Brasil tem uma boa imagem no tratamento das questões internacionais não são personalidades e forças políticas. Quem no Brasil tem uma boa imagem no campo internacional é o Brasil mesmo, pela qualidade do trabalho dos profissionais da diplomacia brasileira, isso desde Saraiva Guerreiro, ainda nos tempos da ditadura de 1964.

    ▪Nos anos da ditadura militar de 1964 não era o presidente militar e ditador brasileiro que tinha uma boa imagem internacional, não eram os generais da ditadura que tinham boa imagem internacional ; quem tinha boa imagem internacional nos anos 60 e 70 era o Brasil mesmo, por causa de sua diplomacia profissional muito bem preparada.

    ■Agora, o que temos é Lula com a imagem que Lula pode ter, por enredar o Brasil a regimes de ódio desde seu 1° mandato, iniciado em 2003, ao entrelaçar a política internacional brasileira com gente e interesses como os dos ditadores de Cuba, Fidel e seu irmão, com o assassino de adversários Rafael Corrêa, ex-presidente do Equador, com os ditadores Hugo Chaves e Nicolás Maduro, da Venezuela, com regimes homofóbicos e antimulheres como os do Irã e da Rússia e com os mais linha dura do regime da China.

    E por aí foi Lula nos dois primeiros mandatos e Dilma continuou por aí. Bolsonaro fez a mesma coisa, só que em outra chave. E por aí voltou Lula, que está repetkndo a ideologização neste seu atual mandato.

    ▪Lula e o PT aplicaram uma política internacional completamente ideologizada, para servir às crenças políticas absurdas do PT e cercadinhos e não para servir aos interesses mais saudáveis da democracia e do equilíbrio internacional que o Brasil aplicava com relativa independência.

    Veio Bolsonaro e a nossa política internacional foi ideologizada igualmente como fizeram Lula e o PT, só que em outra chave ideológica.

    ■Lula, agora, voltou com uma política internacional de ainda maior alinhamento com o que há de pior no mundo.

    Imagine ficarem de beijos, abraços e amassos com Xi Jiping e Vladimir Putin e Lula e o PT transformarem seus blogues sujos em centros eletrônicos de doutrinação e desinformação pró-Rússia e pró-China? É isto o que Lula e o PT estão fazendo, é só ir nestes blogues lastimáveis, ler e constatar.

    ■O Brasil precisa voltar a ter uma política internacional profissional, e o Ministério de relações exteriores tem gente qualificada para fazer isto.

    O Brasil estar na presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU é contingente. Está no próprio nome da presidência deste Conselho de que se trata de uma presidência em rodízio. O Brasil deve aproveitar esta contingência e retomar a política internacional equilibrada, profissional e lúcida que fazia antes de ter sua política externa ideologizada pelo PT e puchadinhos, ideologuzação esta que foi continuada depois por Jair Bolsonaro.

    Lula e a imagem que Lula tem não ajudam e só atrapalham, por mais que os jornalistas chegados ao PT, os antigos e os novos defensores desta política internacional deplorável petista, fiquem perfumando Lula, em uma prática personalista própria de defensores de regimes totalitários.

    É só olhar as fotos e filmagens de Lula para ver um sujeito carimbado pela corrupção de dinheiro público que deveria estar no Orçamento, servindo para "colocar os pobres no Orçamento" e não virando Sítios e Tríplex. E também não corrompendo, como corrompeu, presidentes de outros países.

    Lula hoje só consegue passar para o mundo a imagem alquebrada de um corrupto às toneladas e de apoiador de regimes antiprogressistas!

    Edson Luiz Pianca
    edsonmaverick@yahoo.com.br

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  2. A imagem internacional dos EUA
    Os "democratas", "civilizados", cristãos, do Hemisfério Norte se chocaram com os ataques do Hamas aos civis israelenses... Apoiaram a "DEFESA" de Israel. Agora, depois de Israel matar mais de 750 crianças CIVIS palestinas, os estadunidenses vetaram a proposta brasileira de criação de corredores humanitários! Apoiam integralmente a matança de milhares de CIVIS palestinos pelos israelenses! E querem que ESTA MATANÇA CONTINUE SEM QUALQUER INTERRUPÇÃO!! A vida que vale é a dos ISRAELENSES... A vida dos palestinos nada vale para os estadunidenses!

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  3. Muito bom o artigo do colunista!

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