O Globo
Só ação concertada da comunidade
internacional poderá sustar as agressões e criar condições para uma Palestina
soberana
Na última quarta-feira (11), em meio a cenas
de absoluto horror em Israel e Gaza, o presidente
brasileiro publicou uma nota pessoal sobre o conflito no Oriente Médio. Nela,
Lula faz um apelo em defesa das crianças palestinas e israelenses, pede o
cessar-fogo na região e destaca a urgência de uma “intervenção humanitária
internacional” diante da escalada de violência.
O Brasil ocupa lugar privilegiado nessa
discussão. Tem histórico de boas relações com Israel e Palestina, faz comércio
com ambos e sempre trabalhou pela superação do conflito no âmbito da ONU. Neste
momento, ocupa a presidência do Conselho de Segurança e tem o poder de pautar a
agenda do órgão.
As próximas reuniões darão o tom da resposta internacional à guerra em andamento. Mas o consenso é difícil, até mesmo para criar um corredor humanitário que possa assegurar a saída dos palestinos pela fronteira egípcia. No momento, 1 milhão de palestinos ruma ao sul fugindo dos bombardeios israelenses — e o número de mortos em Gaza só aumenta.
Há algo de concreto que a comunidade
internacional possa fazer a respeito? Uma solução que contemple o fim da
violência e renove as condições para que os palestinos tenham seu próprio
Estado não é só necessária, como também urgente. Esse foi o paradigma que guiou
os Acordos de Oslo, em que lideranças israelenses e palestinas, sob os olhos
atentos do mundo, deram passos concretos para tal fim.
Mediadas pelos Estados
Unidos, as conversas de Oslo produziram avanços importantes. Criaram
a Autoridade Palestina, garantiram sua autonomia sobre áreas da Cisjordânia e
de Gaza e estabeleceram parâmetros para a resolução dos temas mais espinhosos —
o status de Jerusalém, a questão dos refugiados palestinos e os arranjos
específicos de segurança.
Trinta anos depois, a situação retrocedeu a
passos largos. A progressiva construção de assentamentos judaicos ilegais na
Cisjordânia torna praticamente impossível que ali se instale um Estado palestino.
O fortalecimento do Hamas e de sua estratégia de terrorismo inviabiliza
qualquer diálogo racional entre israelenses e palestinos que querem a paz, mas
vivem pautados pelo medo. Menos apoiam a solução de dois Estados hoje que no
passado.
O quadro só se agrava diante de sociedades
absolutamente fraturadas. Israel vive a maior crise política de sua história,
marcada pela pulverização das forças políticas, pela radicalização dos governos
e por protestos populares contra o premiê Benjamin Netanyahu. Brutalizados pelo
Hamas e pela prolongada ocupação e frustrados com suas próprias lideranças
políticas, os palestinos não conseguem vislumbrar qualquer perspectiva de
independência.
Mais do que nunca, a comunidade internacional
deverá agir de maneira construtiva. Sabemos que a mediação americana é
indigesta para os palestinos e para muitos outros países que,
compreensivelmente, veem nos americanos uma força pró-Israel. Mesmo que os
Estados Unidos sigam na equação, fica claro que eles não poderão mais atuar sozinhos.
Há precedentes para a participação de outros
países na busca de uma solução. A Liga Árabe ofereceu um plano de paz em 2002 e
2007, com apoio dos Estados Unidos. As poucas negociações que avançaram desde
Oslo ocorreram no marco do Quarteto, quando americanos trabalharam em conjunto
com outros atores: Rússia, União Europeia e ONU.
O mundo multipolar de hoje abre oportunidade
para a participação de outros países. Aí se inscreve a atuação da diplomacia
brasileira. Ainda não se sabem os detalhes da “intervenção humanitária”
anunciada pelo Brasil. Mas a escolha das palavras, algo nunca trivial na
diplomacia, mostra que o Brasil quer assumir outro tipo de protagonismo.
Nestes tempos de apreensão e sofrimento,
somente uma ação concertada da comunidade internacional poderá sustar as
agressões e criar condições para a criação de uma Palestina soberana. É
imprescindível quebrar o ciclo de violência. Para isso, as nações comprometidas
com a paz deverão considerar seriamente um grande esforço humanitário no terreno,
que desmobilize extremistas e abra caminho ao diálogo.
*Guilherme Casarões é cientista político e
professor na FGV EAESP
3 comentários:
A IMAGEM INTERNACIONAL DO BRASIL
■Quem no Brasil tem uma boa imagem no tratamento das questões internacionais não são personalidades e forças políticas. Quem no Brasil tem uma boa imagem no campo internacional é o Brasil mesmo, pela qualidade do trabalho dos profissionais da diplomacia brasileira, isso desde Saraiva Guerreiro, ainda nos tempos da ditadura de 1964.
▪Nos anos da ditadura militar de 1964 não era o presidente militar e ditador brasileiro que tinha uma boa imagem internacional, não eram os generais da ditadura que tinham boa imagem internacional ; quem tinha boa imagem internacional nos anos 60 e 70 era o Brasil mesmo, por causa de sua diplomacia profissional muito bem preparada.
■Agora, o que temos é Lula com a imagem que Lula pode ter, por enredar o Brasil a regimes de ódio desde seu 1° mandato, iniciado em 2003, ao entrelaçar a política internacional brasileira com gente e interesses como os dos ditadores de Cuba, Fidel e seu irmão, com o assassino de adversários Rafael Corrêa, ex-presidente do Equador, com os ditadores Hugo Chaves e Nicolás Maduro, da Venezuela, com regimes homofóbicos e antimulheres como os do Irã e da Rússia e com os mais linha dura do regime da China.
E por aí foi Lula nos dois primeiros mandatos e Dilma continuou por aí. Bolsonaro fez a mesma coisa, só que em outra chave. E por aí voltou Lula, que está repetkndo a ideologização neste seu atual mandato.
▪Lula e o PT aplicaram uma política internacional completamente ideologizada, para servir às crenças políticas absurdas do PT e cercadinhos e não para servir aos interesses mais saudáveis da democracia e do equilíbrio internacional que o Brasil aplicava com relativa independência.
Veio Bolsonaro e a nossa política internacional foi ideologizada igualmente como fizeram Lula e o PT, só que em outra chave ideológica.
■Lula, agora, voltou com uma política internacional de ainda maior alinhamento com o que há de pior no mundo.
Imagine ficarem de beijos, abraços e amassos com Xi Jiping e Vladimir Putin e Lula e o PT transformarem seus blogues sujos em centros eletrônicos de doutrinação e desinformação pró-Rússia e pró-China? É isto o que Lula e o PT estão fazendo, é só ir nestes blogues lastimáveis, ler e constatar.
■O Brasil precisa voltar a ter uma política internacional profissional, e o Ministério de relações exteriores tem gente qualificada para fazer isto.
O Brasil estar na presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU é contingente. Está no próprio nome da presidência deste Conselho de que se trata de uma presidência em rodízio. O Brasil deve aproveitar esta contingência e retomar a política internacional equilibrada, profissional e lúcida que fazia antes de ter sua política externa ideologizada pelo PT e puchadinhos, ideologuzação esta que foi continuada depois por Jair Bolsonaro.
Lula e a imagem que Lula tem não ajudam e só atrapalham, por mais que os jornalistas chegados ao PT, os antigos e os novos defensores desta política internacional deplorável petista, fiquem perfumando Lula, em uma prática personalista própria de defensores de regimes totalitários.
É só olhar as fotos e filmagens de Lula para ver um sujeito carimbado pela corrupção de dinheiro público que deveria estar no Orçamento, servindo para "colocar os pobres no Orçamento" e não virando Sítios e Tríplex. E também não corrompendo, como corrompeu, presidentes de outros países.
Lula hoje só consegue passar para o mundo a imagem alquebrada de um corrupto às toneladas e de apoiador de regimes antiprogressistas!
Edson Luiz Pianca
edsonmaverick@yahoo.com.br
A imagem internacional dos EUA
Os "democratas", "civilizados", cristãos, do Hemisfério Norte se chocaram com os ataques do Hamas aos civis israelenses... Apoiaram a "DEFESA" de Israel. Agora, depois de Israel matar mais de 750 crianças CIVIS palestinas, os estadunidenses vetaram a proposta brasileira de criação de corredores humanitários! Apoiam integralmente a matança de milhares de CIVIS palestinos pelos israelenses! E querem que ESTA MATANÇA CONTINUE SEM QUALQUER INTERRUPÇÃO!! A vida que vale é a dos ISRAELENSES... A vida dos palestinos nada vale para os estadunidenses!
Muito bom o artigo do colunista!
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