Folha de S. Paulo
Planos de saúde amargam crise que é agravada
por boas intenções de reguladores
Durante a pandemia, os planos de saúde se deram bem. Os gastos que tiveram com a
Covid foram amplamente compensados pela forte redução da demanda por outros
serviços. Pacientes atrasaram cirurgias eletivas e deixaram de procurar o
médico, o que levou a uma diminuição momentânea nos novos diagnósticos de
cânceres e outras doenças de alto custo.
É claro que não duraria para sempre. E não durou. A pandemia passou, a demanda reprimida explodiu, e a situação dos planos hoje é de crise. A maioria deles amarga prejuízo operacional, e vários já atrasam pagamentos a prestadores e reembolsos a clientes. Planos obviamente não são santos. Há uma lista telefônica de táticas abusivas que eles usam sem pudor contra segurados. Mas há duas queixas dos administradores que procedem.
A primeira são as fraudes. Elas sempre
existiram, mas, de uns anos para cá, foram profissionalizadas. Hoje há grupos especializados em extrair mais reembolsos, nem sempre
devidos. A segunda é a generosidade de legisladores e reguladores, que estão
sempre ampliando as coberturas e retirando restrições. O Congresso derrubou o
rol taxativo que fora reconhecido pela Justiça. Retiraram-se os limites para
consultas com fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos etc.
Não há nada errado em ampliar coberturas,
desde que se aceite pagar o preço por isso. Mas nem todos podem. As mensalidades sobem bem mais do que a inflação, e é
crescente o número de jovens que, confiando na própria juventude, opta por não
contratar um plano. Não é uma decisão irracional, já que podem contar com o
SUS. O problema é que isso cria uma seleção adversa. As pessoas com mais
problemas de saúde fazem
de tudo para manter seu plano, enquanto as mais saudáveis arriscam a sorte.
Isso faz com que a sinistralidade aumente, o que torna os planos ainda mais
caros, num complicado círculo vicioso.
Mantidas essas premissas, não há como dar
certo.
Saúde é tudo.
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