terça-feira, 3 de outubro de 2023

Hélio Schwartsman - Democracia estudantil

Folha de S. Paulo

Tecnologia poderia ampliar a participação de alunos em assembleias que decidem greves

USP está em greve. A paralisação, desta vez, foi deflagrada pelos alunos, que se queixam, com razão, da falta de professores. Só que a reitoria e as faculdades concordam com o diagnóstico e estão fazendo concursos para preencher as vagas abertas. O processo não ocorre no ritmo desejado, mas será que esse descompasso temporal justifica a greve? Eu penso que não, mas esse é um território em que cada um é livre para ter sua própria opinião.

E isso nos leva ao problema das assembleias que decidem as greves, mais especificamente de sua baixa representatividade. Desde os tempos em que eu era aluno, algumas décadas atrás, a militância estudantil se aproveita de uma assimetria das disposições. Quem é contra a paralisação, contingente que pode até ser majoritário, dificilmente comparece à assembleia, o que abre espaço para que a coorte mais politizada dos alunos imponha suas preferências.

Ao menos em teoria, uma decisão democrática deveria levar em conta as vontades do maior número possível dos membros do grupo, não só as daqueles dispostos a enfrentar assembleias que podem ser bastante aborrecidas e até frustrantes. Uma solução clássica para esse tipo de dilema social é estabelecer um quórum mínimo de participação para que a assembleia tenha caráter deliberativo. O risco aí é cair numa espécie de inércia do imobilismo. Decisões relevantes não seriam tomadas porque a maioria tem preguiça de comparecer aos conciliábulos.

Creio que hoje já é possível dar uma resposta tecnológica para o problema. Não me parece difícil desenvolver um programa que permita a qualquer membro oficial do grupo expressar sua opinião por via digital. A convocação de uma assembleia já viria com os itens que serão votados e o prazo para fazê-lo online.

A dificuldade para que se adote um sistema desses é a resistência dos grupos organizados do movimento estudantil, que veriam sua hegemonia ameaçada.

 

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