Folha de S. Paulo
Esquerda não deveria abrir mão das ideias
iluministas ao tratar de segurança pública
A esquerda em geral tem
dificuldades para lidar com a segurança pública. E a principal razão
para isso é que a visão esquerdista da questão, herdeira do projeto iluminista e calcada no respeito aos direitos humanos, não é muito bem recebida pela população, que tende a
preferir abordagens mais punitivistas, de olho em resultados rápidos e sem se
importar muito com efeitos colaterais.
Não é uma surpresa que as pessoas se deixem pautar pelo medo. Thomas Hobbes, um produto do violentíssimo século 17, captura bem a escala do desejo de nossa espécie por segurança quando escreve que, para nos livrarmos da guerra de todos contra todos, que ele julgava ser o estado natural da humanidade, deveríamos nos submeter ao poder absoluto do soberano. Para Hobbes, só teríamos o direito de nos rebelar contra o chefe caso ele nos condenasse à morte.
O irônico aqui é que o projeto iluminista vem
produzindo bons resultados. Ainda que com variabilidades locais, vivemos hoje
em sociedades muito menos violentas que as de séculos anteriores e recorrendo a
sistemas de justiça que se valem de punições muito mais leves que as do passado
e que são muito mais ciosos dos direitos dos acusados. Se isso não é sucesso,
fica difícil imaginar o que seja.
O problema é que a população não usa as
lentes da história para avaliar instituições. Ela não quer saber se estamos
mais seguros do que no século 17. Só o que lhe importa é se ela se sente segura
hoje, e a resposta é em geral "não". Afinal, basta ler sobre um crime
bárbaro cometido nas redondezas para ativar a amígdala, disparando nossos
alarmes internos.
Reconheço que as coisas são difíceis, mas
penso que não devemos desistir do projeto iluminista. Dá perfeitamente para
combater o crime sem atropelar direitos humanos e é sempre possível tentar
educar a população. Tudo o que a esquerda não deveria fazer é aceitar a lógica
de faroeste na segurança pública.
Eu acho que a esquerda não aceita a ''lógica do faroeste'',parece que não,sei lá.
ResponderExcluir