Folha de S. Paulo
Legislativo e Judiciário têm motivos para
queixar-se um do outro, mas precisam evitar escalada de crise
Na pequena
guerra aberta entre Legislativo e STF, ambos os
lados estão certos e, portanto, também errados.
É claro que o Supremo não pode legislar. O
Poder incumbido de fazê-lo chama-se, não por acaso, Legislativo.
Mas a corte tem legitimidade para anular leis que considere inconstitucionais e
para modular seus efeitos recorrendo ao princípio da proporcionalidade. Assim,
se o STF vier a descriminalizar
o porte de pequenas quantidades de maconha e o aborto no
primeiro trimestre da gravidez estará dentro de suas atribuições. Vários tribunais
constitucionais mundo afora já fizeram isso.
Daí se segue que o Supremo nunca legislou? Infelizmente, não. O tribunal avançou o sinal há pouco, quando transformou a homotransfobia em crime. Cortes constitucionais têm razoável maleabilidade para desfazer tipos penais, mas nenhuma para criá-los. Só quem pode fazê-lo é o Legislativo.
O Parlamento não se sai muito melhor nas
medidas retaliatórias que ensaia aprovar. A ideia de reservar para si o direito
de anular decisões do STF que julgue inconstitucionais é
absurda e atentaria perigosamente contra o equilíbrio dos Poderes. Já a proposta de
criar mandatos fixos para futuros ministros, apesar de ter ferido
suscetibilidades na corte, é algo que pode perfeitamente ser discutido.
Reduzir os poderes monocráticos dos
magistrados e disciplinar
os pedidos de vista é uma necessidade. O Legislativo pode e
deve abordar essas questões. Só que o Supremo acaba de alterar seu regimento
para tratar disso. A elegância exigiria que essas mudanças fossem testadas
antes de os parlamentares baixarem seu pacote de regras. Mas, lamentavelmente,
a elegância foi a primeira vítima dessa guerra.
A autocontenção é a chave para evitar que a
crise ganhe escala. O STF precisa usar de inteligência política para
não parecer que extrapola suas competências; os legisladores devem evitar as
propostas muito exuberantes.
Quase escrevi que é isto mesmo. O final atrapalhou um pouquinho e me impediu de escrever.
ResponderExcluirPrecisamos atentar para o nível dos legisladores e dos ministros da corte.
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