Folha de S. Paulo
Duelo de rejeições explica em parte bom
resultado de candidato governista
Como o ministro da Economia de um país com inflação
de quase 150% consegue sair na
frente numa disputa
presidencial que foi para o segundo turno? É fácil. É só
colocar Javier Milei como
adversário a derrotar. Foi assim que o candidato governista Sergio Massa,
contrariando o resultado das prévias (Paso)
e as pesquisas, abriu uma dianteira de quase sete pontos percentuais sobre o
postulante anarcocapitalista, cujo apelido, "El Loco", fala por si.
Os números das Paso, como escrevi aqui em agosto, deveriam ser vistos com um grão de sal. As exóticas prévias argentinas, um pleito antes do pleito cujo valor é principalmente indicativo, são, afinal, um convite ao voto de protesto. À medida, porém, que as eleições se presentificam e o eleitor começa a considerar suas consequências, ele fica mais cauteloso.
Acho que isso explica em parte o bom resultado de
Massa, que também tem a seu favor o fato de ser visto como um peronista light,
menos umbilicalmente ligado ao presidente Alberto
Fernández e à vice Cristina
Kirchner (embora tenha sido seu chefe de gabinete).
Daí não decorre que já possamos considerar
Milei carta fora do baralho. A terceira colocada, Patricia
Bullrich, obteve 24% dos votos. Ela ainda não disse se irá apoiar
alguém, mas seus eleitores tendem a ser bem antiperonistas. Isso significa que
Milei deverá herdar uma fatia maior de seu espólio. A pergunta é se a diferença
bastará para fazê-lo superar Massa.
Não é incomum que eleições se convertam numa
batalha de rejeições, em que vence aquele que desagrada menos. Os argentinos,
contudo, levaram essa tendência ao paroxismo, a ponto de Massa, que é o atual
maestro da crise, estar liderando a corrida. O paradoxo se dilui quando se
considera que do outro lado está um candidato antissistema que não economiza em
ideias sem volta, como extinguir a moeda nacional, eliminar todos os subsídios
sociais e sair do Mercosul.
Carácoles!
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