Correio Braziliense
Indicado pelo presidente da República teve o
nome rejeitado por 38 x 35. “No comando da poderosa CCJ, Alcolumbre promete
jogar mais pesado com Lula do que Lira jogou
Mais importante escritor brasileiro, Machado de Assis orgulhava-se de ter iniciado suas atividades profissionais como jornalista, aos 20 anos, fazendo a cobertura das sessões do Senado do Império, a partir de 1860. Começou no liberal Diário do Rio de Janeiro, sob a direção de Saldanha Marinho. O chefe de redação era Quintino Bocaiuva, de quem se tornou um grande amigo. Sua missão era fazer a resenha dos debates do Senado, além de eventuais críticas teatrais. Essa experiência foi decisiva para o escritor, obrigado a escrever diariamente e enfrentar o grande público, tendo de relatar e refletir sobre os fatos políticos da época.
Com o tempo, deslocou suas críticas dos
políticos para a própria instituição, que descreve como vetusta: “Os homens que
não são sérios e graves são exatamente os homens sérios e graves”. Machado de
Assis registrou a velha política de conciliação entre liberais e conservadores
e a emergência dos republicanos, entre os quais viria a pontificar Quintino
Bocaiuva.
Embora liberal e abolicionista, Machado
compartilhava da opinião de Joaquim Nabuco sobre a monarquia constitucional,
cuja corte o acolheu como escritor e personalidade da vida nacional. Por isso
mesmo, enaltecia a aristocracia iluminista que pôs de pé o Estado nacional
brasileiro, antes mesmo de o país se constituir plenamente como nação. Em 1899,
10 anos após a proclamação da República, escreveu a crônica O velho Senado, em
que tece suas considerações sobre a vida política no Solar do Conde dos Arcos, no
antigo Campo de Santana, local onde o Senado funcionou entre 1826 a 1925.
Essa crônica fez parte da coletânea
intitulada Páginas Recolhidas, que fez sucesso na época: “Diante daqueles
homens que eu via ali juntos, todos os dias, é preciso não esquecer que não
poucos eram contemporâneos da maioridade (1840), algum da Regência, do Primeiro
Reinado e da Constituinte (1824). Tinham feito ou visto fazer a história dos
tempos iniciais do regímen, e eu era um adolescente espantado e curioso”,
escreveu. Segundo Carlos Castello Branco, traçou para a posteridade “retratos
imperecíveis dos modelos de sua paisagem humana, entre eles alguns homens
excepcionais como Paranhos do Rio Branco, modelo de parlamentar e de homem
público que é um paradigma dos grandes vultos que dotaram um país pobre e ainda
em formação de figuras titulares”.
“E após ele vieram outros, e ainda outros,
Sapucaí, Maranguape, Itaúna, e outros mais, até que se confundiram todos e
desapareceu tudo, cousas e pessoas, como sucede às visões. Pareceu-me vê-los
enfiar por um corredor escuro, cuja porta era fechada por um homem de capa
preta, meias de seda preta, calções pretos e sapatos de fivela. Este era nada
menos que o próprio porteiro do Senado, vestido segundo as praxes do tempo, nos
dias de abertura e encerramento da assembleia geral”, descreveria Machado. Para
arrematar: “Quanta coisa obsoleta!”
Alto custo
Hoje, outros personagens pontificam. Na
quarta-feira, o plenário do Senado rejeitou a indicação de Igor Roberto
Albuquerque Roque para o cargo de defensor público geral federal. Foram 38
votos contrários, 35 favoráveis e uma abstenção. O relator da indicação,
senador Humberto Costa (PT-PE), pediu ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), para pôr a indicação em votação sem se dar conta de que não teria
maioria para sua aprovação. O líder do governo no Senado, senador Jaques Wagner
(PT-BA), levou uma bola nas costas, mas não esperneou. As prioridades do
governo são outras, numa Casa que se tornou hostil ao Supremo Tribunal Federal
(STF) e, agora, parte para cima do presidente Luiz Inácio da Silva.
Uma declaração favorável à legalização do
aborto foi o pretexto para a derrubada da indicação. Agora, o governo terá que
fazer uma nova indicação para a Defensoria Pública da União, que cuida,
principalmente, dos mais pobres e das minorias.
Entretanto, o pano de fundo é a sucessão da
Presidência do Senado. Pacheco, o político mineiro que durante o governo
Bolsonaro foi uma espécie de algodão entre os cristais, apoia a volta do
senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) ao comando da Casa. Retribui o apoio
que dele recebera para se eleger presidente do Senado, sendo ainda um senador
em começo de mandato.
Há um realinhamento de forças na Casa. A
candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) à presidência, contra Pacheco, havia
isolado a oposição. Agora, não. Os senadores bolsonaristas já decidiram apoiar
a volta de Alcolumbre.
No comando da poderosa Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, agora, ele joga mais pesado com Lula do
que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Se o presidente da República
entregou a presidência da Caixa para os deputados do Centrão, o que entregará a
Alcolumbre na presidência do Senado? O Banco do Brasil?
Vixe!
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