Folha de S. Paulo
Desvio de metralhadoras do Exército alimenta
barbárie de nossa guerra particular
Não sei se o leitor já teve a oportunidade de
ver de perto uma metralhadora
.50. A máquina impressiona menos pelo porte, de certa forma enxuto, apesar
do peso de 34 quilos, e mais pela visão do cinto de munição, com sua série de
cartuchos de alto poder destrutivo.
A.50 é um armamento pesado de guerra, usado
há décadas por exércitos mundo afora. Dispara mais de 500 tiros por minuto e
serve para combates terrestres ou defesa antiaérea. Pode perfurar blindagens e
abater helicópteros e outras aeronaves.
Há poucos dias, 13 dessas armas desapareceram de um quartel do Exército Brasileiro em Barueri, no estado de São Paulo. Também deu-se falta de um lote de oito outras metralhadoras, de calibre 7,62.
A descoberta do desfalque levou ao aquartelamento
de centenas de militares. Atualmente 160 deles continuariam presos naquela
unidade, sob investigação. O comandante do Exército, general
Tomás Paiva, já declarou não ter dúvidas quanto à colaboração interna no
desfalque.
Noticiou-se que as armas, necessitadas de
reparos, já teriam sido oferecidas
à facção criminosa Comando Vermelho, ao valor de R$ 180 mil cada. Nesta
quinta (19), a Polícia Civil do Rio encontrou
8 das 21 metralhadoras furtadas na Grande São Paulo.
Não é a primeira vez que armas de guerra são
subtraídas e caem nas mãos do crime organizado. Entre 2015 e 2019, 54 delas
foram desviadas das Forças
Armadas, segundo a organização Sou da Paz. Metralhadoras .50 já foram
utilizadas por quadrilhas em assaltos e outras investidas.
Tempos atrás setores influentes da chamada
opinião pública manifestavam temores de que a utilização de militares das
Forças Armadas em operações de combate ao narcotráfico poderia facilitar o
contágio de servidores fardados, atraídos ou dobrados pelo dinheiro do crime.
Não se sabia, então, se episódios desse tipo
já vinham ocorrendo. Hoje, não há mais dúvida. A couraça foi perfurada. A ponto
de um militar da FAB ter sido preso na Espanha por traficar
37 quilos de cocaína quando viajava como parte da tripulação de apoio
de Jair
Bolsonaro, em 2019.
Esses casos evidenciam os progressos da infiltração de setores do Estado pelo
crime organizado, uma realidade que não tem encontrado a devida resposta
institucional e política.
Nos diversos níveis governamentais, do
federal ao municipal, do Legislativo ao Judiciário, passando pelo Executivo e
pela área de segurança, facções e milícia têm conseguido plantar seus
interesses por meios diversos –subornos, coação, oferta de vantagens, apoio
eleitoral etc. Faz pouco, não esqueçamos, milicianos desfrutavam de perigosa
proximidade com o Palácio do
Planalto.
Enquanto o mundo volta suas atenções para a
guerra em Israel e mantém um olho no conflito da
Ucrânia, continuamos por aqui com nossos intermináveis enfrentamentos
armados envolvendo um leque de organizações criminosas e disputas por
territórios. Duas grandes operações estão neste momento em curso na Bahia e
no Rio
de Janeiro.
Seguimos com nossa própria rotina de
confrontos em que civis, crianças e adolescentes são mortos de maneira
injustificável. O noticiário sobre as infames "balas perdidas" já se
tornou banal. Nos bairros pobres, as assim conhecidas "comunidades",
a Constituição é
uma peça ornamental. Invadem-se residências e pessoas espremidas entre o poder
do crime e as incursões das Polícias Militares são espancadas e assassinadas em
nome de políticas de segurança insustentáveis.
Enquanto assistimos aos louváveis esforços da
diplomacia brasileira no exercício de sua vocação para o entendimento e a paz,
em nossa guerra particular os exemplos de barbárie continuam a chocar. É
preciso também pacificar o Brasil.
Tivemos um miliciano mentiroso na presidência da República entre 2019 e 2022. Foram milhares de mentiras e uma total liberação de armamento para a população e de desregulamentação do controle de armas. "Clubes de tiro" se multiplicaram como os ratos que estavam no DESgoverno Bolsonaro e comandavam os ministérios da Saúde (lembram do Pazuello?), da Educação (lembram do Weintraub, do Milton Mendes, do doutor sem doutorado Decotelli?), da Justiça, do Meio Ambiente (lembram do criminoso Ricardo Salles?), das Minas e Energia (lembram do Bento nada santo que contrabandeou as joias pro genocida?), da Polícia Federal, das Relações Exteriores (lembram do Ernesto Araujo, que se orgulhava de nos tornar pária?)... Vou ter pesadelos relembrando todos estes criminosos que nos governaram nos últimos anos!
ResponderExcluirÉ realmente muito difícil saber o que é pior entre o populismo bolsonarista e o populismo lulo-petista e suas assombrosas delinquências, gastanças, apoios a abusos e ditaduras, mentiras...
ResponderExcluirE um delinquente alimenta o outro, muitas vezes se nutrido do mesmo feijão com arroz podre.