Folha de S. Paulo
Indicadores de mercado financeiro e de
energia mal se moveram depois da matança
O dinheiro grosso do mundo não deu quase a
mínima para os massacres em Israel e em
Gaza, na Palestina,
e para o risco de que dias ainda piores devem vir, ao menos para o povo
palestino. Os indicadores financeiros de tensão mal se moveram.
Não que dinheiro importe, tendo em vista o
morticínio. No entanto, idas e vindas da finança e de outros mercados sempre
podem degradar ainda mais uma situação horrível.
O comentarismo ou o sensacionalismo geopolítico especulavam que a mais recente onda de matança deve atrapalhar o plano de aproximação entre Arábia Saudita e Israel. Que talvez afetasse mesmo o fornecimento de armas e munições para a Ucrânia. Poderia ainda vir a se transformar em uma grande crise regional caso se provasse a participação iraniana nos ataques do Hamas ou se o Irã viesse a intervir no conflito.
Os donos do dinheiro deram de ombros para o
risco de tamanho tumulto, porém. Na segunda-feira (9), o petróleo (tipo
Brent) passou de uns US$ 84 para US$ 88; nesta terça (10), baixou
a pouco menos que isso.
Em 27 de setembro, porém, chegara a quase US$
97, quando os entendidos desse mercado especulavam que poderia passar de US$
100, o que é inflação na veia mundial. Nos dias seguintes, a especulação era de
que o barril estava muito caro para uma economia mundial que vai andando
devagar.
Dada essa quantidade de chutes em uma
quinzena, a calmaria no mercado pode se dever também ao fato de que os
mercadores não tenham ideia do que se passa na dita geopolítica.
Ainda assim, em relatórios de bancões e na
imprensa financeira ocidental era possível ler gente graúda especulando que, no
limite, um dominó de crises poderia levar o Irã a fechar o estreito de Ormuz. É
a saída do Golfo Pérsico e de portos de países árabes petrolíferos para o
Oceano Índico.
Por ali passa cerca de 18% do consumo diário
mundial de petróleo. Se tal bloqueio acontecesse, o mundo se esqueceria logo de
Gaza, como o faz quase o tempo inteiro, com breves exceções trienais. Haveria
vários desastres.
De ambientes de guerra e da estupidez
selvagem humana se pode esperar quase qualquer coisa, é claro. Porém, o Irã
tenta se recuperar da ruína e vender mais petróleo, o que o faz em quantidades
cada vez maiores desde a guerra de Vladimir Putin na Ucrânia, em especial
exportando para a China.
Analistas de petróleo dizem que os Estados
Unidos fazem vista grossa para o fracasso de sanções contra o Irã. Sem o
petróleo dos aiatolás, o caldo engrossa até para os EUA, por causa de preços
mais altos de gasolina.
Demais inimigos ou potenciais inimigos de
Israel na região estão arruinados, econômica e militarmente. O Egito coopera
com Israel. Os países árabes petrolíferos estão empenhados em facilitar suas
relações com o restante do mundo e usar também o dinheiro do petróleo a fim de
desenvolver uma economia de serviços (finança, turismo etc.) —Arábia Saudita
inclusive.
Outros indicadores de tensão política no
mundo também mal se mexeram. Houve alta dos títulos da dívida dos EUA (isto é,
os juros caíram),
em parte porque ativos americanos são um refúgio de segurança. Mas houve também
uma virada de humor quanto ao futuro da taxa de juros do Fed, o Banco Central
deles.
A direção do Fed passou a dizer que a recente
alta das taxas de longo prazo pode contribuir para a estabilidade das taxas de
curto prazo (isto é, pode não haver alta na Selic deles).
Iene, franco suíço ou ouro, outros velhos ativos da especulação de tempos de
crise, meio fora de moda, também não deram a mínima. Houve uma alta do gás, pois
a produção de Israel pode ser afetada.
E foi isso. A depender do tamanho da matança
de palestinos que virá, é possível que logo o mundo se esqueça de Gaza outra
vez.
Ninguém está nem aí para o sofrimento alheio.
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