O Estado de S. Paulo
É grande a lista de senadores que, mesmo recebendo benesses, votaram contra a reforma
O placar da votação da reforma tributária no
Senado mostrou o curioso caso do relatório aprovado que acatou inúmeras emendas
de senadores que votaram contra a proposta.
Com resultado apertado, a reforma só passou
após uma movimentação intensa de governo e aliados que foram à caça de votos,
como mostrou reportagem do Estadão.
É estranho que o relator da reforma, senador Eduardo Braga, não tenha usado mais o seu poder de barganha de “dono do pedaço” – ou seja, do relatório final – para arregimentar mais votos.
Foi um sufoco danado. A tensão estava no ar
até o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, seguindo o rito legislativo,
ordenar a abertura do painel, que mostrou 53 votos favoráveis e 24 contrários –
um pouco acima dos 49 votos necessários para aprovar a reforma.
Excesso de confiança? Traição, certamente,
não foi.
Muito antes da votação em primeiro turno, o
senador Omar Aziz (PSD-AM) subiu à tribuna do plenário para criticar o colega
Mecias (assim mesmo, com a letra “C”) de Jesus (Republicanos-RR).
“Meu amigo Mecias declarou que vai votar
contra; mas teve, senador Eduardo Braga, 20 emendas aceitas pelo senhor. Se não
acredita na reforma tributária, não pode nem perder tempo fazendo emenda”,
criticou Aziz, revelando em público o que estava acontecendo nas negociações de
bastidores.
Mecias respondeu que não tinha obrigação de
votar a favor, como de fato não o fez, assim como o senador Dr. Hiran (PP-RR).
Pouco depois, o Estado dos dois foi beneficiado com um novo fundo bancado com
dinheiro do governo federal para o Acre, Rondônia, Roraima e Amapá.
Nesse caso, ao menos o senador bolsonarista
Márcio Bittar (Uniao-AC) votou a favor. Será que ganhou mais alguma coisa? É
grande a lista de senadores que votaram contra e tiveram suas emendas aceitas.
Eis aqui uma pequena amostra: Esperidião Amin (PP-SC), Marcos Rogério (PL-RO) e
Carlos Portinho (PLRJ). Portinho conseguiu garantir tratamento diferenciado
para as agências de turismo, mas disse um sonoro não à PEC.
Fica a impressão de que a reforma poderia ter
saído mais barata. Agora, a esperança é a Câmara suprimir do texto da PEC os
excessos para a emenda ser promulgada.
O presidente da Câmara pegou a bola
novamente, vai matar no peito e botá-la no chão para terminar o jogo. A
história não vai esquecer daqueles que, mesmo recebendo benesses, votaram
contra a reforma – tal como aconteceu com o Plano Real. A foto do painel de
votação está aí para provar.
Pois é.
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