segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Ana Cristina Rosa - Um Salve à Serra da Barriga!

Folha de S. Paulo

Local abriga o único parque temático voltado à cultura negra do Brasil

Em 20 de novembro de 1695, o líder do maior e mais longevo quilombo das Américas (abrigou mais de 20 mil pessoas, incluindo indígenas e brancos) era encurralado, morto e decapitado na Serra da Barriga (AL). A resistência de Palmares e a liderança de Zumbi e Dandara, símbolos de luta e resiliência contra a escravização, eram ameaças à Coroa portuguesa.

Em 20 de novembro de 2023, a luta pelo direito dos negros à liberdade, dignidade, respeito e equidade permanece uma causa tão atual e urgente quanto há 328 anos. E os negros (em geral) seguem tratados como ameaça.

Inúmeras situações absurdas e perversas para um Estado Democrático de Direito exemplificam isso dando em nada de concreto além da morte, do sofrimento e do trauma psicológico de pessoas negras.

Um negro asfixiado por policiais rodoviários federais até a morte em viatura transformada em câmera de gás (SE) deveria ser motivo de revolta nacional. Não é.

O mesmo vale para um preto correndo rua afora para fugir de uma deputada federal empunhando arma de fogo. Ou para um jovem negro chutado por policial militar que se nega a socorrê-lo das ameaças de um homem armado (SP).

Dedicado à reflexão sobre o racismo e a contribuição da cultura africana para a formação da sociedade brasileira, o Dia Nacional da Consciência Negra este ano tem entre suas tônicas a transformação da Serra da Barriga em referência nacional.

O local abriga o único parque temático voltado à cultura negra do Brasil, o parque Memorial Quilombo dos Palmares. Em 1986, a Serra foi declarada Patrimônio Cultural Brasileiro inscrito no Livro do Tombo Histórico e no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Em 2017, recebeu o título de Patrimônio Cultural do Mercosul.

Um país que tirou proveito do trabalho de negros escravizados por mais de 300 anos precisa reconhecer o legado africano, admitir e enfrentar o racismo institucionalizado e garantir equidade de tratamento a seus cidadãos.

 

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