terça-feira, 7 de novembro de 2023

Andrea Jubé - Pesquisas alertam: não é a economia, estúpido!

Valor Econômico

Governo precisa governo intensificar a disputa política com a oposição e afinar a comunicação interna e externa

Um episódio em torno da entrega de ambulâncias do Samu 192 pelo Ministério da Saúde em São Paulo ilustra a urgência de que, a um ano das eleições municipais, o governo intensifique a disputa política com a oposição e afine a comunicação interna e externa, com eleitores do PT e do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Pesquisas recentes levadas a público, bem como levantamentos internos que circulam entre ministros do Palácio do Planalto, acenderam um sinal de alerta no governo ao demonstrarem que a melhora de índices econômicos - como a queda da inflação e do desemprego - não bastam mais para segurar o eleitor.

Sondagens divulgadas recentemente, bem como aquelas confiadas ao ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, indicaram queda expressiva na avaliação do governo no segundo semestre.

Os números geraram perplexidade entre auxiliares presidenciais e cientistas políticos porque os preços de alimentos, inclusive da carne, caíram nos supermercados. A taxa Selic mantém a curva decrescente, a inflação está sob controle e o desemprego refluiu.

Porém, os números mostraram que o eleitor está insatisfeito. Alguns analistas atribuíram o mau humor ao resgate de temas de costumes, como a legalização das drogas e do aborto - que estavam adormecidos após o fim da campanha eleitoral, mas foram pautados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nos últimos meses.

A conclusão levada ao Planalto por alguns analistas foi de que o eleitor não dissocia mais a eventual melhora da economia do debate de valores. Atenta a esse movimento, a oposição atuante nas redes sociais reavivou, até mesmo, a máquina de “fake news” contra o governo, segundo confirmaram fontes do Palácio à coluna.

Analistas ouvidos pelo Planalto argumentam que o governo precisa ir além do debate sobre o ajuste fiscal, e retomar o embate político com a oposição, se não quiser ajudar a eleger bolsonaristas em 2024.

Foi nesse contexto que a coluna ouviu reclamações de alguns deputados do PT de que, no dia 18 de outubro, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, teria comandado cerimônia de entrega de 20 ambulâncias a prefeitos paulistas sem convidar políticos do PT e demais partidos da coalizão governista - o que não ocorreu.

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP), um dos mais atuantes da bancada, foi uma dessas vozes. Ele relatou que visitou o município de Novo Horizonte (SP) no dia 26 de outubro - oito dias depois da entrega dos veículos - e surpreendeu-se com a exibição de uma ambulância diante da prefeitura. O prefeito Fabiano Belentani, do PL, vangloriava-se junto aos moradores da conquista, paga com recursos federais.

“Se eu soubesse da entrega da ambulância, o diretório do PT e outros aliados teríamos organizado um ato para receber o veículo”, argumentou. O PT tem quadros competitivos para concorrer à Prefeitura de Novo Horizonte no ano que vem.

Zarattini também relatou que, na última semana, visitou o município de Juquitiba, que vai favorecer com emendas parlamentares para reformar o campo de futebol. Lá ele tomou conhecimento pela oposição de que o governo vai concluir a quadra de esporte da escola municipal, que estava paralisada há anos.

“Agora é o prefeito de direita que vai faturar com a obra”, criticou. A empreitada é do Ministério da Educação, comandado pelo ex-governador do Ceará Camilo Santana, do PT.

Para Zarattini, não está certo que um deputado federal do PT chegue a um de seus redutos eleitorais e saiba pelos adversários de uma obra do governo federal que vai favorecer a cidade. “São oportunidades que perdemos para fazer a disputa política”, alertou.

A entrega de ambulâncias, sobretudo para cidades do interior, é um dos atos que mais gera dividendos aos prefeitos, sobretudo às vésperas das eleições municipais.

Contudo, ao contrário do que circulou entre alguns petistas, políticos do PT e da base aliada foram convidados para a entrega das ambulâncias. Dois dias antes do ato, a assessoria do ministério disparou convites, por e-mail e celular, para deputados federais, estaduais, senadores, prefeitos e vereadores do PT e demais legendas da base aliada.

Mas o evento ocorreu numa quarta-feira, dia de votações em Brasília. Zarattini ponderou que esses atos deveriam ocorrer nas segundas ou sextas-feiras, quando os parlamentares estão em suas bases.

Aliados da ministra argumentam que ela fez a disputa política na melhor acepção do termo. Prefeitos e parlamentares da base foram convidados para o ato. A entrega simbólica das chaves foi feita ao prefeito de Matão, Cido Ferrari, que é do PT.

Houve ruído na comunicação. Zarattini ponderou que os deputados federais deveriam ter acesso às obras dos ministérios que estão em andamento em seus redutos eleitorais, e que os ministros, sobretudo aqueles do PT, deveriam se reunir com a bancada federal. Mas, segundo ele, não há diálogo.

É um cenário adverso para o PT a um ano do pleito municipal. De 2012 pra cá, a sigla perdeu mais de 400 prefeituras. Em 2020, não elegeu prefeito de capital. O governo não pode se restringir ao debate sobre a meta fiscal. O que está valendo é o slogan ao contrário do marqueteiro de Bill Clinton: não é mais a economia, estúpido.

 

2 comentários:

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  2. ■Que coluna estranha!
    ▪Esta coluna é, lamentavelmente, a pregação escancarada da "Prática Centrão" do PT/PP/PL/PSD/etc... Por que será que esta jornalista está repercutindo as queixas fisiológicas de uns em vez de condenar esta prática fisiológica e clientelista de todos?

    Depois a jornalista quer crédito como jornalista:: isto que ela fez não é de nenhum modo o papel de jornalista. Ela pode ganhar o crédito de segmentos clientelistas e fisiológicos que vivem dos intestinos do Estado, como cupins infestado madeira ; mas crédito como jornalista, assim ela não ganha!

    Onde já se viu jornalista escrever nota de queixa de políticos fisiológicos e clientelistas? E escrever sem nenhum espírito crítico em relação à prática!

    E, também, onde já se viu ter um Governo que não resolve os desequilíbrios econômicos que ele próprio criou por anos afora com gastança e que ainda pede autorização para gastar e gastar mais e, em vez de resolver os desequilíbrios fica inaugurando... ambulância?

    E veja bem: ambulância comprada com o nosso dinheiro!

    ■Sofrível, irrelevante e equivocada em relação ao papel do jornalismo, inclusive em relação ao papel pedagógico do jornalista, esta colunista.

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