O Globo
Gilmar Mendes ganhou mais uma. Emplacou o
próximo procurador-geral da República. O supremo ministro liderou a campanha de
Paulo Gonet, seu amigo e ex-parceiro de negócios. O presidente Lula não o
conhecia até setembro, mas assinou a indicação na segunda-feira.
Gonet já havia tentado o cargo em 2019,
quando chegou a ser recebido por Jair Bolsonaro. A deputada Bia Kicis, que
defendia a escolha, garantiu que o procurador era um “conservador raiz”. A
aliada do capitão sabia do que estava falando.
Nos anos 90, Gonet se opôs a reconhecer a responsabilidade do Estado pelo assassinato de vítimas da ditadura. O procurador integrava a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos. Votou contra as famílias enlutadas até no caso da estilista Zuzu Angel, que nunca pegou em armas contra o regime.
Na década seguinte, Gonet passou a militar
contra as ações afirmativas. Em 2002, escreveu que as cotas seriam
“incompatíveis” com a Constituição. O artigo martela expressões como
“discriminação reversa”, usadas para justificar privilégios e mascarar a desigualdade
racial.
O procurador também é signatário de textos
contra a descriminalização do aborto. Num deles, escora-se numa encíclica papal
e num libelo de Ives Gandra da Silva Martins, seguidor do Opus Dei e jurista de
estimação do bolsonarismo.
Na pandemia, Gonet abriu a Escola Superior do
Ministério Público da União para o general Eduardo Pazuello dissertar sobre o
“direito ao tratamento precoce”. O procurador se disse “imensamente grato” pela
palestra do “caríssimo ministro”. Só faltou felicitá-lo pela gestão inepta e
negacionista.
Na semana passada, um grupo de entidades
tentou demover Lula da nomeação de Gonet. O texto defendia que o novo chefe do
MPF precisava ter “sólido histórico” na defesa dos direitos humanos e da
democracia. Lula ignorou o apelo e confirmou o procurador.
O presidente já havia descartado seguir critérios de diversidade na escolha do futuro PGR. Agora vê-se que também não deu a mínima para as convicções e a visão de mundo dos candidatos. Estava mais interessado em estabelecer pactos de lealdade e em ajudar quem pode ajudá-lo. É o caso de Gilmar, que festejou a indicação do “amigo de longa data”.
Lula não se emenda.
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