Folha de S. Paulo
Haddad costurou acordo e conseguiu vitória,
mas sabe que o resultado é provisório
Fernando
Haddad entrou na briga da meta fiscal com uma desvantagem
geográfica. O ministro tem a confiança de Lula para
gerenciar as contas do governo, mas seu principal adversário nessa queda de
braço, Rui Costa (Casa
Civil), ocupa uma sala a poucos metros do presidente e despacha com ele
diariamente.
O ministro da Fazenda teve que suar
para ganhar terreno na disputa. Prestes a ser derrotado, conseguiu o
apoio de ministros não palacianos (como Renan
Filho, dos Transportes), argumentou que não faltará dinheiro para
obras e pediu crédito a Lula para aprovar novas medidas de arrecadação antes de
definir o déficit para o ano que vem.
O que Haddad costurou nas últimas semanas foi um acordo para ganhar tempo. Dentro ou fora do palácio, ninguém acredita que o déficit ficará zerado. Lula topou manter essa previsão por enquanto, mas todos sabem que esse número vai mudar —em março, como quer o ministro da Fazenda, ou em dezembro, como quer o chefe da Casa Civil.
Na prática, o acerto foi feito para
amenizar a barbeiragem
que o próprio presidente cometeu ao antecipar as discussões sobre a revisão da
meta de 2024. Lula mandou seus ministros para o ringue antes que a
planilha de receitas do ano que vem estivesse pronta e, portanto, sem ter um
cálculo sobre o tamanho do rombo que seria necessário.
O adiamento da decisão pode prevenir um
segundo fiasco. Se a meta zero virasse pó agora, substituída por um déficit de
0,5% do PIB, os projetos de arrecadação perderiam fôlego no Congresso, e o
governo ainda correria o risco de precisar de uma nova revisão em março (para
0,75% ou 1%) com o objetivo de evitar o congelamento de despesas.
A vitória deu um refresco a Haddad, mas é
provisória. O ministro ainda precisa persuadir Lula de que o melhor caminho é
manter um aperto nas contas até março e, depois, terá que enfrentar uma disputa
sobre o tamanho do déficit com a ala do governo que pretende soltar o freio das
despesas.
Lula e Haddad.
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