Folha de S. Paulo
Israel já indicou que não pretende
administrar Gaza após conflito
Binyamin Netanyahu declarou que, depois da
eventual derrota do Hamas, Israel manterá "controle integral sobre a
segurança" na Faixa de Gaza "por tempo indeterminado". O
primeiro-ministro quer guardar o pudim e, ao mesmo tempo, comer toda a iguaria.
O governo israelense já indicou que não
pretende administrar Gaza como potência ocupante no pós-guerra, pois um retorno
ao status quo vigente entre 1967 e 2005 imporia o fardo de proporcionar
serviços públicos a 1,3 milhão de palestinos hostis. Nos meios diplomáticos,
articula-se a ideia de substituir o Hamas por uma coalizão de países árabes,
com a participação de uma reformada Autoridade Palestina. Contudo, tais atores
jamais aceitariam o papel de colaboradores menores das forças armadas de
Israel.
A solução só funcionaria como transição rumo à criação de um Estado palestino, algo finalmente enfatizado pela Casa Branca. Netanyahu dedicou-se, desde 2009, a sabotar as negociações de paz, estabelecendo para isso uma parceria tácita com o Hamas. Sua declaração sobre o pós-guerra representa o prosseguimento dessa política, nas novas condições geradas pela implosão do acordo implícito de convivência violenta entre Israel e Hamas.
O campo da guerra estende-se do
primeiro-ministro até franjas de fanáticos que circulam no pátio ideológico do
supremacismo judaico. "Agora, um objetivo: nakba!", clamou o deputado
Ariel Kallner, do Likud, referindo-se à "catástrofe" palestina de
1948 para exigir uma sanguinária "limpeza étnica" nos territórios
ocupados. A paz na Terra Santa depende, antes de tudo, de uma derrota política
avassaladora da coalizão liderada por Netanyahu.
O campo da guerra nutre-se do mito de que
Israel é a encarnação atual dos judeus sitiados pelo nazismo no Reich alemão. A
bandeira da destruição do Estado judeu, erguida pelo eixo Irã/Hezbollah/Hamas e
dramatizada pelo massacre terrorista do 7/10, funciona como argumento crucial
dos cavaleiros do "Grande Israel". É, exclusivamente, o ruído perene
do antissemitismo que confere uma falsa verossimilhança ao discurso de
Netanyahu.
Mas o eixo liderado pelo Irã não está só. A
palavra de ordem da supressão de Israel orienta um cortejo de correntes
significativas da esquerda ocidental. A mensagem antissemita espalha-se bem
além das seitas delirantes que perambulam nos túneis das redes sociais.
"Do rio até o mar, a Palestina será
livre" –Rashida Tlaib, deputada do Partido Democrata dos EUA, aderiu ao
canto que embala manifestações nas praças das grandes cidades do Ocidente.
Cinicamente, Tlaib o interpretou como um "chamado aspiracional por
liberdade e coexistência pacífica, não morte, destruição ou ódio". De
fato, porém, sua específica alusão geográfica não demanda a paz em dois
Estados, mas a abolição do Estado judeu.
Idiomas diferentes, conteúdo igual. Israel
seria "uma vergonha para a humanidade" que "não merece ser
Estado" (Gleide Andrade, tesoureira do PT e conselheira de Itaipu). A
tática de manual é traçar paralelos entre Israel e a Alemanha nazista. Daí, a
utilização ritual do termo "genocídio" para fazer referência a ações
do Estado judeu.
Genocídio qualifica operações deliberadas de
extermínio físico de um povo inteiro. Não é sinônimo de crimes de guerra. A
invasão do Iraque pelos EUA e a guerra de conquista russa na Ucrânia deixaram
pilhas de vítimas civis, mas não se inscrevem no conceito de genocídio. O TPI
abriu investigação sobre os crimes de guerra de Israel (e do Hamas) sem
desviar-se pelo caminho da inflação retórica.
Netanyahu, Kallner e seus discípulos precisam
de figuras como Tlaib e Gleide Andrade. O Irã e suas milícias amestradas
configuram uma paisagem insuficiente para descrever Israel como fortaleza
acossada pelo antissemitismo. A coesão do campo da guerra em Israel depende da
amplitude do campo da guerra anti-Israel.
"O TPI abriu investigação sobre os crimes de guerra de Israel (e do Hamas)...". Mas as pilhas de cadáveres civis deixados pelos EUA no Iraque não são CRIMES DE GUERRA e nem foram investigados pelo TPI. Por que será?? Por que o CRIMINOSO DE GUERRA George Bush não é mostrado como tal?
ResponderExcluirPois é.
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