Folha de S. Paulo
Forças russas se mostraram muito menos
capazes do que se imaginava; mesmo assim, Ucrânia está em maus lençóis
Aldeia Potemkin é o nome que se dá a qualquer construção de fachada criada para convencer incautos de que a situação é melhor do que parece. O termo surgiu em fins do século 18 e faz referência ao marechal Grigori Alexandrovich Potemkin, amante da imperatriz Catarina, a Grande. A fim de impressionar a czarina, Potemkin mandou construir uma espécie de aldeia portátil, que era instalada em pontos pelos quais ela passaria na viagem que fez à Crimeia em 1787. Assim que ela deixava o lugar, a aldeia era desmontada para depois ser reerguida na próxima localidade.
O que a Guerra da Ucrânia revelou até agora é que o exército russo tinha algo de aldeia Potemkin. Apesar da superioridade numérica e de armas, as tropas de Putin não foram capazes de subjugar a Ucrânia e nem de derrubar o governo de Volodimir Zelenski. O que se alardeava sobre as forças russas era muito mais do que sua real capacidade.
Ilusionismos à parte, o transcurso do tempo,
como já apontei aqui, joga a favor dos russos. As assimetrias são muitas.
A Rússia é
um país três vezes mais populoso que a Ucrânia e com muito mais recursos
bélicos e naturais. Numa guerra prolongada, ela se desgasta mais lentamente. E
esse nem é o fator mais fundamental. Kiev se saiu bem até aqui porque contou
com sólido apoio do Ocidente. E o problema principal é que não dá para manter
essa corrente de solidariedade eternamente.
Os sinais de fissura, que já vinham
aparecendo, tornam-se bem mais agudos agora que estourou um conflito no
Oriente Médio e Kiev compete com Tel Aviv por ajuda militar dos
Estados Unidos. Na Europa, o cansaço com a guerra e com a inflação também se
faz notar. Há até uma chance de Trump voltar ao poder no ano que vem, o que
seria desastroso para Zelenski.
A prosseguir nessa toada, em algum momento os
dois lados terão de discutir a cessação das hostilidades. O ucraniano tem mais
motivos do que o russo para correr.
Concordo.
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