sábado, 25 de novembro de 2023

Demétrio Magnoli - Reféns de Netanyahu

Folha de S. Paulo

Prolongada ocupação do território palestino envenenou Estado judeu

Israel nasceu do horror do Holocausto, como fortificação de defesa dos judeus. Dessa origem derivam relações paradoxais entre os judeus da diáspora e o Estado de Israel. Como explica Bernardo Sorj: "O Estado de Israel se autodelegou a representação do povo judeu, e boa parte das instituições judaicas da diáspora foram transformadas em instrumentos de defesa do Estado de Israel perante a opinião pública. Consequências: o apoio e justificação de toda e qualquer política do governo e a perda de autonomia política."

Sorj destaca uma diferença crucial. Na diáspora, como minoria (e, frequentemente, minoria perseguida), os judeus desenvolveram uma sensibilidade particular para os direitos humanos. Já em Israel, os judeus são maioria –e, desde 1967, cidadãos de um Estado ocupante. Daí que os judeus da diáspora viram-se na posição paradoxal de aceitar, às vezes com indignação ou extrema relutância, a violação, por "seu" Estado, do direito nacional palestino. Tornaram-se reféns políticos dos governos israelenses, que não elegeram.

A história de Israel/Palestina não deve ser contada no registro da caricatura. A Nakba (catástrofe palestina) de 1948 foi deflagrada pela rejeição dos países árabes ao plano de partilha da ONU, não por um projeto sionista de expansão territorial. A Guerra de 1967, que terminou com a ocupação dos territórios palestinos, foi semeada pela recusa do Egito de Nasser a admitir a existência de Israel.

Mas a prolongada ocupação envenenou o Estado judeu, conferindo maiorias eleitorais às correntes engajadas no expansionismo e no messianismo bíblico: os fanáticos do Grande Israel. Os palestinos são as vítimas diretas dessa tragédia histórica. Os judeus da diáspora são suas vítimas indiretas.

Netanyahu montou o governo mais extremista da história de Israel: uma coalizão que abrange até fanáticos religiosos e supremacistas judaicos. Sabotou a retomada de negociações de paz. Estimula colonos israelenses na Cisjordânia a humilhar cotidianamente os palestinos. Tentou subordinar a Corte Suprema à maioria parlamentar a fim de destruir um pilar central da democracia israelense. Estabeleceu parcerias privilegiadas com Trump e Bolsonaro. Um segmento da diáspora judaica acompanhou sua aventura, associando-se à extrema-direita.

Sob Netanyahu, a imagem internacional de Israel (e, junto, a dos judeus) sofreu danos profundos. Fertilizou-se o solo no qual cresce a antiga árvore do antissemitismo, com suas ramificações à direita e à esquerda. Nos EUA e na Europa, ameaçadoras estrelas de Davi aparecem pintadas na fachada de residências de judeus e policiais protegem sinagogas. O grito "Palestina livre, do mar até o rio", uma senha que indica o objetivo de destruição do Estado de Israel, fez seu caminho até os protestos nominalmente pacifistas contra a ação militar em Gaza. O antissemitismo pulsa sob a película retórica do antissionismo.

A diáspora judaica não vive em guetos: envolve-se nos fluxos políticos das sociedades nacionais. Nos últimos tempos, correntes progressistas da diáspora alinharam-se à "nova esquerda". Desde os atentados do 7 de outubro, elas descobriram, com ingênua consternação, que as sementes do antissemitismo florescem nos meios identitários e "decoloniais". Nessas zonas ideológicas, Israel é descrito como "Estado colonial racista" –e o culto à "resistência" do Hamas é, quando muito, apenas disfarçado por sentenças protocolares de desaprovação do terror. Os judeus de esquerda nunca estiveram tão sós.

Os israelenses têm sérios motivos para se livrarem de Netanyahu: com ele, não haverá paz –e, sem paz, não existirá segurança. Os judeus da diáspora têm um motivo existencial: o governo que os mantém reféns oferece pretextos perfeitos para a maior onda histórica de antissemitismo desde o Holocausto.

 

7 comentários:

  1. Perfeito! Agora leia o imbecil Glenn Greenwald.

    MAM

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  2. Um governo que mata mais de 14 mil civis palestinos em 45 dias, sendo mais de 5 mil CRIANÇAS, é o quê? O colunista junta meias verdades pra construir sua versão e não mostra o principal.

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  3. ■■■Este artigo do Demétrio Magnoli, quando lido por alguém que não tem a carga de doutrinarismo dos que se aliam a alguma corrente política fundamentalista do mundo, logo ele verifica que se trata de um artigo bastante correto com os fatos, com os dados e com a história*.

    *Alguém pode, ao ler, concordar ou discordar porque encontrou no artigo coisas que confirmam ou que negam suas crenças políticas:: nestes casos, um ou outro estarão fazendo a leitura que querem fazer, mas não estarão fazendo uma leitura livre e desarmada do artigo.

    ■■■Este não é um artigo escrito por um ideólogo extremista dito "de esquerda" ou dito "de direita; este é um artigo escrito por um sociólogo profissional e, portanto, não ideologizado.

    ■■Mas não é assim que um doutrinado lê. Um doutrinado não lê buscando verificar os fatos e a história ; um doutrinado tem previamente internalizadas as narrativas que são difundidas nos círculos que ele frequenta, círculos estes que possuem aparelhos próprios de produção de notícias e de realidades, e o doutrinado toma previamente como verdade a versão de seu grupo.

    ■■Um doutrinado busca no noticiário aquilo que confirma as narrativas que ele já tinha antes de conhecer os fatos. Claro que as narrativas que o doutrinado quer podem vir acompanhadas de aspectos verdadeiros, mas mesmo isto só será considerado por ele se contribuir para legitimar a narrativa a que adere.

    ■Exemplos::
    =》No caso do conflito Rússia-Ucrânia, não iria importar a um doutrinado se a vítima fosse a Rússia, invadida e abusada, ou se, pelo contrário e como no real está sendo, ser a Ucrânia a sofrer invasão e abuso da Rússia por querer se libertar da dominação que sofre há 200 anos.
    ■Um doutrinado, não importando para ele os dados, os fatos, a verdade e a história, à priore daria razão e apoio a quem seus doutrinadores apoiassem, sem buscar de forma livre a verdade real::
    =》Se o apoio dos doutrinadores fosse para a Ucrânia invadida por ditaduras, os seus doutrinados apoiariam a Ucrânia;
    =》Como o apoio dos doutrinadores é para a ditadura da Rússia, é a ditadura da Rússia que os doutrinados apoiam.

    A ditadura da Rússia é a abusadora da Ucrânia e racionalmente o justo é a Rússia ser condenada ; mas o doutrinado não escolhe o racional e o justo, o doutrinado escolhe a narrativa do seu grupo.

    =》No caso do conflito Israel--Palestinos é do mesmo modo e o doutrinado pró-Israel já parte do juízo à priore de que é Israel que está certo e o doutrinado pró-Hamas já parte à priore de que o Hamas é que está certo.
    ■Entre as duas versões há os Palestinos suas crianças, hospitais, mulheres e todos e há os israelenses, suas crianças, hospitais, mulheres e todos.

    E há sempre os fatos, os dados, a verdade, a história.

    Deveria ser baseado no conhecimento do real e aplicando métodos racionais que os juízos sobre a história deveriam ser formados e assim buscados verdades e justiça, mas este não é o método usado pelo doutrinado.

    ■■■O que Demétrio Magnóli faz neste artigo que lemos é refletir sobre a história do conflito Israel-Palestinos com dados, fatos e contextos, não fazendo uma narrativa baseada em verdade com pensamento inventado por ele ou por terceiros, mas buscando uma reflexão justa baseada em racionalidade.

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    1. ■■Este trabalho feito com o método que o sociólogo Demétrio Magnóli aplica é profissionalmente exemplar:: os fatos naram a verdade ; o narrador sério narra estes fatos e, a partir dos fatos e não do que prefere ele e os seus, pensa a realidade.

      ■■Quando uma narrativa da realidade é criada por conveniência, uma vez que seja aceita a versão ela pode trocar o responsável causador, pode inventar os números da realidade, pode trocar tudo que mesmo assim o doutrinado vai escolher e aceitar a narrativa que confirme aquilo em que ele previamente acredita. E depois de cimentada a crença, é quase impossível demovê-la de quem foi capturado pela doutrinação.

      Se for preciso, o doutrinado nega até a possibilidade da existência da verdade para manter a versão que prefere. Para um doutrinado, mesmo verdades esfregadas na cara não o incomodam ou o demovem, porque para ele só é verdade o que confirma a tese em que ele acredita e não a realidade dos fatos, dos dados, do conhecimento verificado e da história.

      ■■UM DOUTRINADO ■bolsonarista ou lulista ;
      ■De Ultra Direita ou Esquerda.

      ■■■Com um doutrinado do populismo bolsonarista ou com um fundamentalista dito "de direita", tente mostrar, usando a racionalidade, os fatos, os dados e documentos, que Bolsonaro nega vacinas, rouba relógios, ganha imóveis, é corrupto, faz gastanças, é apoiador de ditaduras, é apoiador de terroristas, é apoiador de torturadores ou o que for::
      ■O doutrinado bolsonarista ou o de ultra-direita irá negar os dados, os fatos e a história e afirmará uma verdade sem pensamento, baseada apenas na crença de que a narrativa de seu grupo é a verdade.

      ==■》O mesmo se repete com o doutrinado do populismo lulista e do fundamentalismo dito "de esquerda".

      ■■■Com um doutrinado do populismo lulista ou com um fundamentalista dito "de esquerda" , tente mostrar, usando a racionalidade, os fatos, os dados e documentos, que Lula nega vacinas, rouba relógios, ganha imóveis, é corrupto, faz gastanças, é apoiador de ditaduras, é apoiador de terroristas, é apoiador de torturadores ou o que for::
      ■O doutrinado lulista e o doutrinado dito "de esquerda" irá negar os dados, os fatos e a história e afirmará uma verdade sem pensamento, baseado apenas na crença de que a narrativa de seu grupo é a verdade.

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    2. AS VERDADES SEM PENSAMENTO DO LULISMO E DO BOLSONARISMO
      ■■■O PT e seu entorno por mais de três décadas elaborou teorias para dissolver a ideia e a possibilidade da existência de uma verdade. Afinal, uma vez que conseguissem matar e enterrar a verdade, a versão que o grupo quisesse "disputar" com sua narrativa poderia substituir a verdade (de preferência sem muito uso de botinas e fuzis, como em Cuba, na Venezuela, na Rússia, na China, no Brasil, no Chile e na Argentina das ditaduras).

      Serem atrapalhados por articulistas de inspiração iluminista sempre irritou o PT.

      Os articulistas que cultivam e aplicam valores e princípios baseados na cultura universal e se baseiam na história, nos dados verificáveis, nos fatos e nos documentos para processarem, pensarem e difundirem a verdade, qualquer verdade e não uma escolhida, como Merval Pereira, Patrícia Campos, Malu Gaspar e Demétrio Magnóli, eram e continuam sendo tóxicos para estes detratores da verdade. É por isto que o PT agride tanto este tipo de articulista e jornalista.

      ■■Mas de uns tempos para cá aflorou no mundo uma extrema-direita que se apropriou desta tática usada por seus antagonistas de ultra-esquerda, de relativizar, distorcer, "desconstruir" e desqualificar a realidade factual, para que qualquer realidade narrativa e artificial ganhasse validação e fórum de ser a verdade.

      Misturadas e compartilhadas pela ultra-esquerda e pela ultra-direita, estas táticas torpes de relativização, descontextualização, negação, releitura, desconstrução e deslegitimação da verdade e da realidade foram levadas ao completo exagero pela extrema-direita e estas táticas torpes ganharam o carimbo de Fake News e passou a pegar muito mal ser flagrado fazendo sua propagação.

      A ultra-esquerda no Brasil, a partir de quando o negacionismo, a relativização de inspiração ideológica e a desconstrução e desligitimação levianas que eles faziam passaram a ser carimbo de mentiroso, parou de discursar publicamente contra a verdade e passou a camuflar as Fake News que difunde.

      Mas bastou que o bolsonarismo, visto como antagonista do PT, se enfraquecesse e que os interesses dos ditadores que o PT apoia, Vladimir Putin e Xi Jiping, e o dos terroristas do Hamas se sobrepusessem para o PT e seus aliados retomarem as Fakes News de sempre, não se importando eles se o que difundem são as narrativas de aparelhos da máquina de propaganda e de mentiras dos ditadores que eles apoiam, como as do "sputnik" ou são as informações forjadas pelos terroristas do Hamas e seus comandados.

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    3. ■■■Como é a atitude mental de um doutrinado?
      ■■O que se passa na cabeça de um doutrinado eu não faço a menor ideia.
      =》Quando eu tento pensar nos efeitos que tem a doutrinação sobre a mente de uma pessoa eu lembro de mim, naqueles anos iniciais de "politização" e de "Formação do Espírito Crítico", que era um momento de saída da infância, mas ainda dentro da infância.
      ■Como nós, meninos incaltos, éramos presas fáceis para doutrinarismos e ideologismos!
      =》Eu me lembro que, naqueles meus tempos infantis, se de um lado alguém ou a imprensa profissional, não ligada a partidos, a movimentos e a nada que não fosse ser uma empresa de informação e ter a informação e a notícia como modelo de negócio, precisando por isso ser séria com os fatos e em como repercute os fatos para não perder credibilidade e leitores, e de outro lado os "meus" ou o que os "meus" houvessem me orientado a ter como referência e a quem dar crédito, me informassem estes dois lados duas coisas diferentes, eu nem piscaria para adotar como certa a narrativa dos "meus" em detrimento da notícia do jornalista profissional.

      ■Outros que não fossem "os meus" ou as referências que "os meus" me recomendassem podiam me esfregar na cara documentos mostrando que aqueles a quem eu dava crédito estavam errados que, mesmo assim, eu preferia acreditar nos meus ou naqueles que os meus me apresentaram como referências para eu seguir.

      Não sei o que se passa na cabeça de um doutrinado. Mas sei perfeitamente o que é ser um doutrinado!

      ■■■Hoje eu vejo com tristeza e vergonha tantos e tantos adultos doutrinando e aceitando serem doutrinados.
      ■■Se alguém me pergunta se eu tenho vergonha do menino doutrinado que eu era, eu respondo que não tenho nenhuma vergonha daquele menino::
      =》Meninos não precisam estarem certos; meninos precisam estarem vivos!
      ■Vergonha eu teria se depois de adulto eu ainda fosse um doutrinado como era aquele menino que eu fui.

      Edson Luiz Pianca
      edsonmaverick@yahoo.com.br

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