segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Denis Lerrer Rosenfield* - Dicionário da ignomínia

O Estado de S. Paulo

Como a esquerda – inclusive o PT e os que em torno dele orbitam – vai viver sob a dominação islâmica? Para que servem as pautas identitárias?

A perversidade no uso das palavras é um sinal inequívoco da maldade. Sob o manto de um suposto humanismo, vagando em abstrações de cunho ideológico, esconde-se um propósito de aniquilação do outro mediante a violência.

Resistentes. Os terroristas se autodenominam resistentes, sob a complacência da esquerda mundial, principalmente a universitária. Entre tantos exemplos horripilantes, tomemos uma fala recente do secretário de Estado americano, Antony Blinken, ao relatar como esses resistentes invadiram a casa de um Kibutz e realizaram o seu feito libertador: extraíram um olho do pai, cortaram um seio da mãe, amputaram o pé de uma menina e cortaram os dedos de um menino. Ato seguinte, todos foram assassinados. Em outro exemplo, um resistente se gaba com seu pai e sua mãe de ter assassinado com suas próprias mãos dez judeus! Como pode a esquerda ainda justificar essas ações?

Vácuo. A causa da atual guerra nada tem que ver com a questão palestina, nem muito menos com a criação de dois Estados, judeus e palestinos vivendo em paz. O Hamas, desde a sua carta de fundação, está voltado para a aniquilação do Estado de Israel e dos judeus. Não procura o diálogo. Ainda nestes dias, um porta-voz do Hamas reiterou: o exército do terror repetirá tantas vezes quanto for necessário o massacre de 7 de outubro, tendo como objetivo a destruição do Estado de Israel. Mas eis que o secretáriogeral da ONU, António Guterres, em seu afã descontrolado de salvar o Hamas, procurando criminalizar Israel, afirmou que o ataque do grupo não surgiu “no vácuo”. Por uma vez, acertou, apesar dele: o dito vácuo resulta também da própria ação da UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos, ao patrocinar livros didáticos que se caracterizam pelo ódio e pelo antissemitismo. Jovens são educados para o exercício da violência. E isso quando essa agência não é complacente com o desvio e o roubo de mantimentos, combustíveis e medicamentos que são retirados dos hospitais e das próprias escolas para os subterrâneos do exército do terror.

Informações. A esquerda tem uma especial predileção por procurar equivalências, sobretudo onde elas não existem. Na luta contra o imperialismo, tudo vale. O Hamas é tido por fonte confiável de informação, em igual posição à de Israel. Ressaltemos novamente um fato que chocou a opinião pública: Israel teria bombardeado um hospital! Boa parte da mídia mundial tornou-se porta-voz do Hamas, inclusive The New York Times. As massas árabes foram às ruas, fanatizadas, propugnando a destruição de Israel e dos EUA. Israel reagiu rápido, alertando que não estava envolvido naquela operação. Não lhe foi dada credibilidade, como se uma democracia, em que tudo pode ser verificado, fosse equivalente a um regime despótico, no qual nada pode ser contestado.

Aos poucos, a verdade foi emergindo. A explosão foi produzida pela Jihad Islâmica, pelo disfuncionamento de um foguete que caiu dentro da própria Faixa de Gaza. Tudo isso foi investigado por EUA, França, Reino Unido, Alemanha e pelo próprio primaz da Igreja Anglicana, responsável por aquele hospital. Aliás, nem o prédio do hospital foi atingido, senão lateralmente, mas o seu estacionamento. Contudo, em poucos segundos, o dito Ministério da Saúde de Gaza, marionete do Hamas, calculou em 500 o número de mortos. Vários serviços de inteligência, inclusive o francês, dão um número muito menor, não passando de 100 as vítimas do terror. Claro que, na propagação da mentira, estes supostos 500 entram na contabilidade dos mortos pelo Estado de Israel.

A explosão.

Luta decolonial. Os terroristas do Hamas são, assim, inseridos numa narrativa decolonial, algo tão novo como o livro de Frantz Fanon Os condenados da terra, de 1961, de inspiração marxista. Segundo essa narrativa, tudo pode ser reduzido à luta contra os EUA e o Ocidente, Israel encaixando-se neste tabuleiro em que as palavras perdem o seu significado no arbítrio. O quadro está montado: o Hamas é o representante legítimo desta luta contra Israel, EUA e outros países aliados, fazendo-o assim um estandarte da luta das esquerdas contra um mesmo inimigo. Os resistentes pertencem a um eixo geopolítico, o do Terror, liderado pelo Irã mediante seus satélites, como o Hezbollah, no Líbano; o Hamas, em Gaza; e os Houthis, no Iêmen. Esquecem-se os seus parceiros esquerdizantes ocidentais – entre os quais o PT e os que em torno dele orbitam – de que o seu propósito é a subjugação das mulheres, a repressão aos homossexuais e o culto da morte, entre outras de suas facetas. Recentemente, uma jovem foi espancada até a morte no Irã pelos Guardiões da Revolução. Como a esquerda vai viver sob a dominação islâmica? Para que servem as pautas identitárias?

Paz. Chamberlain era pacifista, procurou de todas as maneiras dialogar com Hitler e contemplá-lo em suas demandas. Churchill advogou pela guerra ao nazismo, salvando desta maneira o Ocidente e os seus valores. Sem a destruição do Hamas, não há paz possível.

*Professor de filosofia na Ufrgs

 

2 comentários:

  1. O filósofo bolsonarista cada vez mais se afunda na sua ideologia e se distancia da verdade que a Filosofia tenta encontrar. Lamentável!

    ResponderExcluir
  2. Eu sou de esquerda e adorei o artigo.

    ResponderExcluir